Morador de São Gonçalo – cidade na região metropolitana do Rio de Janeiro – o jovem Mario Lima passou seis anos na Marinha do Brasil. Tendo ingressado por meio de concurso público, o ex-militar poderia seguir com a carreira e – quem sabe – alcançar a graduação de suboficial, a mais alta destinada para quem ingressa como soldado ou sargento e até o posto de Capitão de Corveta, para aqueles aprovados em concursos internos.
Evidentemente dono de uma mente inquieta, logo nos primeiros anos de militar enxergou que por detrás da beleza dos uniformes brancos usados pelos militares e dos grandes navios impecavelmente pintados de cinza, há uma luta constante pela manutenção de privilégios régios e situações nada louváveis e que na verdade – ficou claro em sua visão – depreciam muito o ser humano, principalmente aqueles que ocupam as posições mais na base da estrutura hierárquica da grande força naval brasileira, hoej comandada pelo Almirante de Esquadra marcos Sampaio Olsen
Em um dos trechos onde relata situações no refeitório dos oficiais usa a palavra babá para definir que tipo de assistência os oficiais esperam dos praças que servem as refeições em seus ambientes restritos:
“A praça d’armas demanda cuidado maternal com os responsáveis pela segurança da Pátria. Desde os tempos do Império, oficiais transformam navios de combate em hotéis com empregados dedicados a eles, gostam de ser bem servidos… um cabo arrumador me orientou a descascar as laranjas antes de servi-las e limpar as impressões digitais dos copos de vidro porque “os tenentes não gostam das marcas… Por aversão às frescuras na Força Armada mais antiga do Brasil, não por falta de compaixão, deixei a função de babá.”
Carne de hambúrguer de um lado e vinhos sofisticados de outro
Segundo o autor, a instituição na verdade não existe somente para cumprir sua atividade fim, mas que na verdade seria, em sua visão, apenas uma grande estrutura, bem mais burocrática do que operativa, que tem como um dos seus principais objetivos ser um grande e confortável cabide de empregos e manutenção de privilégios para uma casta privilegiada, os oficiais generais.
“… das relações entre senhores e servos. Oficiais-generais, no topo da hierarquia, saboreiam pratos especiais, vinhos sofisticados, uísque, queijos e frutas selecionadas. Na outra ponta, servem carne de hambúrguer …”
No quesito administração militar, o autor aponta que não haveria “coesão de interesses”, que enquanto os militares da base, explorados em atividades que nada tem a ver com militarismo, servindo à manutenção de caprichos da alta oficialidade, oficiais disfarçam o funcionamento de navios que na verdade não serviriam para o combate real. O ex-marujo relata episódios inquietantes que chamam atenção para o uso de militares em tarefas que ada tem a ver com o serviço militar.
“Não há coesão de interesses… Oficiais superiores querem disfarçar para as autoridades navais o mau funcionamento dos aparelhos, inaptos para o combate. Os navios são de segunda mão, adquiridos de países que os descartaram… humilham oficiais intermediários, que por sua vez castigam seus subordinados com trabalho inútil (pintura na chuva, polimento, varrição sob vendaval) que jamais vencerá o desgaste. Trabalhador sobrecarregado, o praça deseja descansar o máximo que puder…”
Aborda de maneira objetiva o dia a dia da Marinha do Brasil
Avaliando-se as resenhas de leitores na Amazon, fornecidas para o livro “Casa de Agonia”, nota-se uma predominância de sentimentos fortes e experiências pessoais compartilhadas pelos leitores, a maioria aparentemente são militares ou ex-militares, que concordam com o autor e expressam uma conexão profunda com as temáticas de militarismo, gestão e experiência dentro da Marinha do Brasil.
As avaliações consideradas mais enfáticas endossam os posicionamentos do autor e até sugerem que se rediscuta os pilares do militarismo no século XXI
José Ribamar: Eu servi na Marinha do Brasil de 1979 até 1987, portanto quase que a totalidade no último governo militar que o Brasil teve. E a situação é muito parecida com a que o autor conta. Infelizmente o Brasil não trata bem aos seus soldados e marinheiros. Um livro bem escrito, que fala muito a nós que já estivemos lá dentro. Parabéns ao escritor.
Cliente anônimo: O livro aborda de maneira objetiva o dia a dia da Marinha do Brasil. Sem tirar nem pôr, elucida a verdade tão escondida por fardas e egos. O leitor que é ou foi da MB, se identifica em cada linha. Com certeza cada marujo que um dia vestiu mescla, passará a ter um olhar mais crítico com relação a força. Parabéns pela obra “campanha”.
Remond Santos: Casa de Agonia é um livro que mostra a outra face do militarismo vigente na Marinha do Brasil. São exposições de desabafo do autor em nome de grande parte de uma tropa que vive silenciada por regulamentos e normas ultrapassadas, sobre o lençol de uma agonia sentenciada ao prazer de egos que se misturam a ordens insensatas. O ponto chave desse livro é propor uma discussão sobre os rumos do militarismo no século 21 e a falta do bom senso da Administração Naval em gerir seus recursos. É um livro da atualidade, uma boca para aqueles impedidos de falar, ao desenrolar de um pensamento crítico sobre a mentalidade dos responsáveis pela Defesa Nacional. Se você é militar, sinta-se na obrigação moral de ler essas páginas.
Robson Augusto – Revista Sociedade Militar