Nos últimos dez anos, Yan Xuetong, reitor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Tsinghua, tem se destacado pela precisão de suas previsões sobre relações internacionais. Em entrevista ao South China Morning Post, Yan compartilhou suas análises sobre a evolução das relações entre China e Estados Unidos, a questão de Taiwan e o papel da China na nova ordem mundial.
De acordo com Yan, se Donald Trump retornar à presidência dos EUA, ele será mais cauteloso do que Joe Biden em relação à questão de Taiwan. “Trump sempre destacou que foi o único presidente dos EUA desde a Guerra Fria que não se envolveu em novas guerras. Ele será mais prudente em evitar um conflito direto com a China no Estreito de Taiwan”, afirmou Yan.
Yan destacou que a cúpula entre China e EUA em São Francisco foi crucial para evitar um conflito militar por Taiwan. “O encontro impediu que os dois países entrassem em guerra, estabelecendo um mecanismo de gestão de crises que evita a escalada de conflitos”, explicou. No entanto, Yan alertou que a rivalidade comercial entre as duas nações tende a se intensificar.
Independentemente do resultado das próximas eleições presidenciais dos EUA, Yan prevê uma melhoria gradual nas relações entre China e União Europeia (UE). “A guerra Israel-Hamas ampliou a distância entre os países europeus e os EUA, aproximando suas posições às da China”, observou Yan. Ele também ressaltou a necessidade de cooperação econômica para resolver disputas comerciais, como as investigações da UE sobre subsídios chineses a veículos elétricos.
Yan acredita que a próxima década será marcada por uma estrutura bipolar mais proeminente entre China e EUA, com ambas as nações ampliando suas lacunas econômicas, tecnológicas e militares em relação a outros países. “A diferença de PIB entre China e EUA tende a aumentar, especialmente devido ao avanço dos EUA em inteligência artificial e chips”, afirmou Yan.
A guerra entre Israel e Gaza, segundo Yan, está diminuindo a influência global dos EUA, o que pode beneficiar estrategicamente a China. No entanto, ele alertou que, apesar do declínio das relações internacionais dos EUA, as relações da China também enfrentarão desafios significativos.
Yan prevê que a “contra-globalização” se intensificará até 2030, trazendo maiores dificuldades de desenvolvimento tanto para China quanto para EUA. “O populismo dominará a ideologia global, exigindo grandes ajustes políticos de ambas as nações”, disse ele.
Yan enfatizou a importância da política da China em relação ao Sul Global, especialmente em sua cooperação com a Rússia em organizações multilaterais como o BRICS. Ele destacou que a China busca promover esse conceito para alcançar seus objetivos estratégicos e evitar ser excluída dessa aliança.
Quanto aos conflitos no Mar da China Meridional e na península coreana, Yan acredita que ambos os lados têm mecanismos para evitar uma guerra. “Desde 1991, houve muitos conflitos de pequena escala no leste da Ásia, mas nenhum se transformou em guerra entre países”, observou.
Ele também mencionou a crescente aliança militar entre EUA, Japão e Coreia do Sul, sugerindo que, se Trump voltar ao poder, essa dinâmica pode mudar. “Os EUA já estão envolvidos em conflitos em Gaza e na Ucrânia. Provocar um terceiro conflito no leste da Ásia não seria vantajoso para os EUA”, concluiu Yan.