Pesquisas recentes sugerem que a tectônica de placas, responsável por terremotos, formação de montanhas e divisão de continentes, pode ter começado há mais de 4 bilhões de anos, logo após a formação da Terra. Este período, conhecido como Hadeano, foi caracterizado por uma Terra jovem e fervente, com uma atmosfera de amônia e metano e água suficiente para formar um oceano global.
Durante o Hadeano, a Terra resfriou o suficiente para desenvolver uma crosta externa sólida. Hoje, essa crosta é moldada pelos movimentos de placas tectônicas, que se movem sobre o manto mais quente e móvel abaixo dela. No entanto, o momento exato em que essa dinâmica tectônica começou permanece um mistério. Estudos anteriores sugeriram que a tectônica de placas começou quase tão cedo quanto a crosta esfriou, enquanto outros acreditam que ela começou há cerca de 3,2 bilhões de anos, baseando-se em mudanças na composição geoquímica da crosta. Ainda há aqueles que argumentam que o fenômeno é mais recente, evoluindo para sua forma moderna nos últimos bilhões de anos.
A dificuldade em determinar o início da tectônica de placas reside na ausência de rochas sobreviventes com mais de 4 bilhões de anos. A única janela direta para o Hadeano vem de pequenos e resistentes cristais conhecidos como zircões, os mais antigos datando de 4,4 bilhões de anos. Um subconjunto desses, os chamados zircões do tipo S, pode revelar a presença de tectônica de placas. Esses zircões se formam em rochas sedimentares na terra, depois são empurrados para o manto pelas placas tectônicas e reaparecem em granitos metamórficos.
No novo estudo, publicado em 8 de julho na revista PNAS, os pesquisadores usaram um modelo de aprendizado de máquina para identificar mais facilmente esses zircões do tipo S. Primeiro, eles alimentaram o modelo com dados de 300 zircões de origem conhecida e testaram a capacidade do modelo de determinar se mais 74 zircões eram do tipo S ou não. Com o modelo treinado, a equipe aplicou-o a 971 novos zircões das Colinas de Jack, na Austrália, onde são encontrados os zircões mais antigos da Terra.
Os resultados indicaram que 35% dos zircões das Colinas de Jack eram do tipo S, alguns datando de 4,2 bilhões de anos. Isso sugere que a tectônica de placas estava movendo rochas da crosta para o manto e de volta durante o Hadeano.
Essa pesquisa não é a primeira a sugerir movimentos tectônicos muito antigos. Um experimento de 2023, que derreteu rochas em altas temperaturas, sugeriu que a crosta continental mais antiga se formou por subducção – o processo de uma placa tectônica mergulhando sob outra. Alguns estudos até sugerem a existência de continentes primitivos durante o Hadeano.
Contudo, o novo estudo provavelmente não resolverá todas as controvérsias. Chris Hawkesworth, um geoquímico da Universidade de Bristol, que não participou do novo estudo, disse à revista Science que outras forças além da tectônica de placas, como impactos de meteoros gigantes, também poderiam ter movido rochas entre a crosta e o manto nos primeiros dias da Terra.
A descoberta abre novas portas para a compreensão da história geológica da Terra, proporcionando uma perspectiva revolucionária sobre a evolução inicial do nosso planeta e potencialmente redefinindo conceitos fundamentais da geologia pré-histórica.
Fonte: SPACE.com