Em um relato fascinante, Paul Martin, um jornalista experiente, narra uma história pessoal e intensa envolvendo Ismail Haniyeh, líder do Hamas recentemente assassinado em Teerã. A história, que mistura cativeiro, execuções simuladas e um surpreendente ato de clemência, lança luz sobre as complexidades e contradições de um dos líderes mais controversos do Oriente Médio.
Em 2010, enquanto produzia um documentário independente em Gaza sobre um militante que abandonara a violência em busca da paz entre palestinos e israelenses, Martin foi capturado por Haniyeh e seus homens armados. O motivo imediato para sua prisão estava ligado ao assassinato de Mahmoud al-Mabhouh, um importante membro do Hamas, pelos agentes do Mossad em Dubai. Haniyeh precisava mostrar uma resposta rápida e Martin se tornou o bode expiatório perfeito.
Durante 26 dias, Martin enfrentou duas execuções simuladas, um período marcado por medo e incerteza. A intervenção inesperada do arcebispo Desmond Tutu, laureado com o Prêmio Nobel da Paz, desempenhou um papel crucial na sua libertação. Tutu, em uma carta a Haniyeh, destacou o histórico de Martin na luta contra o apartheid, apelando à sua libertação.
Apesar da sua libertação e da permissão para retornar a Gaza em 2014, Martin permaneceu cético sobre as intenções de Haniyeh e do Hamas. Ele observou que o financiamento vindo de estados ricos em petróleo, como o Qatar, e do Irã, não era usado para o bem público, mas para construir uma vasta rede de túneis e armamentos. Esses recursos resultaram em ataques devastadores, como o de 7 de outubro do ano anterior, que vitimou cerca de 1.200 pessoas em Israel, marcando um dos dias mais sangrentos para os judeus desde o Holocausto.
A trajetória de Haniyeh, que começou com promessas de resistência crescente e violência, terminou em exílio e, eventualmente, em assassinato em Teerã, um ato que o Hamas atribuiu a Israel. Seu legado é controverso, marcado por ações que, segundo Martin, atrasaram a causa palestina e condenaram a região a décadas de conflito.
Essa narrativa de Martin é uma reflexão sobre as complexidades do jornalismo em zonas de conflito e a natureza paradoxal dos líderes que moldam esses conflitos. Ele conclui que, apesar de sua sobrevivência, o custo humano das ações de Haniyeh é inegável e trágico, deixando um legado escrito em sangue.
Fonte: NewsWeek