Um policial militar, atuando no STF, acessou dados sigilosos que envolvem o ministro Alexandre de Moraes. Este incidente levanta questões sobre o uso de informações sensíveis dentro da mais alta corte do país. Aparentemente, as buscas foram solicitadas por Eduardo Tagliaferro, chefe de um órgão no TSE, para garantir a segurança do ministro.
Essa revelação ocorreu em 24 de fevereiro de 2023, quando o segurança de Moraes, o policial militar Wellington Macedo, enviou a Tagliaferro o nome de um contratado. Ele pediu que verificasse a ficha criminal do indivíduo que iria trabalhar na casa do magistrado. Apenas uma hora depois, Tagliaferro retornou com um conjunto de documentos que incluíam boletins de ocorrência, endereços e outras informações sensíveis. Esses dados, segundo o jornal Folha de S.Paulo, foram consultados em bases de dados que deveriam estar restritas.
Diante dessa situação, é importante ressaltar que o TSE não possui atribuições investigativas. Normalmente, a Segurança do STF é a responsável por encaminhar eventuais ameaças às polícias competentes, seja federal ou estadual. Mesmo assim, o gabinete do ministro tem a prerrogativa de acionar diretamente a polícia em casos que envolvem suspeitas de crimes. Contudo, essa intervenção levanta preocupações sobre o uso adequado das instituições.
Apesar disso, Alexandre de Moraes, em uma rara declaração pública sobre o caso, afirmou que os documentos consultados eram de caráter público e acessíveis a qualquer cidadão. Segundo ele, as informações solicitadas eram meramente objetivas e já estavam disponíveis publicamente. No entanto, as mensagens obtidas pela imprensa sugerem o contrário, apontando para o acesso a informações que deveriam ser sigilosas.
Chefe do TSE agiu com o auxílio de um policial civil de São Paulo
De acordo com a reportagem, Tagliaferro não agiu sozinho. Ele contou com o auxílio de um policial civil de São Paulo, de extrema confiança, cuja identidade permanece em segredo. Essa colaboração estreita entre diferentes forças de segurança coloca em destaque a delicada questão de como informações sigilosas são manipuladas dentro do sistema judiciário.
Além disso, o relacionamento próximo entre Wellington Macedo e Tagliaferro foi evidenciado em diversas comunicações. Em 21 de agosto de 2022, por exemplo, o policial militar solicitou um levantamento sobre ameaças feitas ao ministro e à sua família. Esse pedido incluiu a análise de mensagens de WhatsApp enviadas aos familiares de Moraes, com o objetivo de identificar a fonte de um vazamento de dados pessoais. Em menos de um dia, um relatório intitulado “Ameaça ministro” foi produzido e entregue ao segurança.
No dia 23 de agosto, após a filha de Moraes receber mensagens, incluindo um pedido de Pix no valor de R$ 5.000, Macedo pediu a Tagliaferro que rastreasse a origem do número de telefone responsável pelo envio das ameaças. Mais uma vez, o acesso a dados sigilosos foi utilizado para tentar identificar os envolvidos.
Outubro de 2022 também foi um mês movimentado. Macedo solicitou que Tagliaferro rastreasse a origem de duas encomendas suspeitas que haviam chegado para a esposa de Moraes. A resposta veio em seguida, com informações detalhadas sobre os remetentes, demonstrando novamente o acesso a dados sigilosos.
Mais tarde, em um mês não especificado, o policial militar solicitou apurações adicionais sobre pessoas que estavam ameaçando o ministro e sua família. As ameaças vinham na forma de prints de mensagens, e o relatório produzido por Tagliaferro foi encaminhado a Moraes. A confiança entre os dois era evidente, com Macedo elogiando o trabalho de Tagliaferro e afirmando que o ministro estava ciente de seus esforços.
Wellington Macedo parabenizou Tagliaferro por seu trabalho após um levantamento de informações para Moraes: “Vc tem vida longa c o chefe”
Em novembro de 2022, Wellington Macedo parabenizou Tagliaferro por seu trabalho após um levantamento de informações, sugerindo que a relação entre o segurança e o chefe do órgão do TSE estava se fortalecendo. O agradecimento incluiu a frase: “Vc tem vida longa c o chefe”, o que indica a confiança estabelecida.
Ainda em novembro, após o vazamento do número de telefone de Moraes, Macedo recorreu mais uma vez a Tagliaferro. A investigação identificou duas pessoas como possíveis responsáveis pelo vazamento, destacando a rapidez e eficiência com que as informações sigilosas eram obtidas.
Essas revelações fazem parte de uma série de reportagens da Folha de S.Paulo, com a participação do jornalista Glenn Greenwald, conhecido por seu trabalho na exposição das mensagens trocadas na operação Lava Jato, no caso que ficou conhecido como Vaza Jato.
Eduardo Tagliaferro foi preso, em maio de 2023, após ser acusado de violência doméstica
Finalmente, o afastamento de Eduardo Tagliaferro do cargo de chefe da AEED ocorreu em maio de 2023. Sua demissão foi precedida por sua prisão por violência doméstica, que resultou na apreensão de seu celular pela Polícia Civil de São Paulo. Esse aparelho, um iPhone 14, foi posteriormente devolvido, mas as circunstâncias de sua apreensão levantam novas questões sobre o acesso e o uso de informações sigilosas no contexto de investigações que envolvem figuras públicas.
Este caso levanta questões importantes sobre o uso de dados sigilosos em investigações que envolvem autoridades do mais alto escalão do país. O envolvimento de um policial militar no acesso a esses dados dentro do STF e TSE traz à tona discussões sobre ética, segurança e o papel das instituições na proteção dos direitos individuais e coletivos.