Yuliia Kuzmina é uma mulher que, como muitas outras na Ucrânia, teve sua vida drasticamente transformada pela guerra em curso contra a Rússia. Após servir no exército ucraniano por dois anos, ela foi forçada a abandonar a carreira militar devido à falta de recursos e obrigações familiares. Mas sua história de resiliência não termina aí. Kuzmina tomou a difícil decisão de recomeçar sua vida profissional, não apenas uma, mas duas vezes, enquanto seu país enfrenta um dos períodos mais sombrios de sua história recente.
Em 2020, Kuzmina, que havia estudado contabilidade, ingressou no exército ucraniano como escriturária. No entanto, com o aumento da escalada militar e a invasão em larga escala da Rússia em fevereiro de 2022, ela foi transferida para a linha de frente como granadeira no Batalhão Donbas. A realidade brutal da guerra logo se impôs: seu comandante desmantelou a unidade devido à falta de munição e suprimentos, uma decisão tomada para preservar a vida de seus soldados.
Com a saúde do pai em risco devido à intensificação dos combates em sua cidade natal, Toretsk, Kuzmina teve que tomar outra decisão difícil: abandonar o exército para cuidar de sua família. Mesmo assim, o desejo de contribuir para a defesa de seu país permaneceu forte, levando-a a buscar uma nova forma de apoiar a Ucrânia.
Em maio de 2024, Kuzmina encontrou essa nova forma de contribuição ao ingressar em uma subestação elétrica local. Trabalhar na rede elétrica, especialmente em um momento em que as infraestruturas críticas da Ucrânia estão sob constante ataque russo, se tornou sua missão. “O inimigo está nos atacando de todos os lados. Eles estão tentando nos dobrar à sua vontade”, afirmou Kuzmina, destacando a importância de sua nova função.
O conflito, que já está em seu terceiro ano, criou uma enorme lacuna no mercado de trabalho ucraniano, especialmente em setores tradicionalmente ocupados por homens, como o trabalho mecânico, a condução de veículos e a manutenção de estradas. Em resposta, o governo ucraniano lançou um programa para treinar mulheres em profissões anteriormente dominadas por homens, oferecendo vouchers de treinamento gratuitos. Ainda assim, as mulheres que optam por essas carreiras enfrentam desafios significativos, não apenas no ambiente de trabalho, mas também em suas próprias famílias, onde os papéis de gênero tradicionais ainda são profundamente enraizados.
Kuzmina é uma das poucas mulheres em sua nova função, mas representa uma crescente tendência de mulheres assumindo empregos essenciais à medida que os homens são convocados para a guerra ou deixam o país. Segundo especialistas, apesar da revogação de uma lei soviética que proibia mulheres de exercerem cerca de 450 profissões, o estigma e a resistência social ainda são fortes.
Olga Kupets, professora de economia do trabalho na Escola de Economia de Kyiv, ressalta que, embora o governo esteja disposto a promover a inserção das mulheres em setores tradicionalmente masculinos, a sociedade ainda impõe barreiras significativas. Empresas muitas vezes desencorajam candidatas femininas, e as pressões familiares também desempenham um papel negativo.
Apesar dessas dificuldades, Kuzmina continua determinada. “Eu estava no exército, mas percebi que não poderia ser útil lá por mais tempo”, disse ela. “Mas eu quero ajudar nosso país, nossa Ucrânia. Não poderia simplesmente ficar parada.” Sua história reflete a força e a determinação das mulheres ucranianas que, diante da adversidade, estão assumindo papéis críticos na sustentação de sua nação.