Segundo um documento do Serviço de Ação Exterior da União Europeia (EEAS) intitulado “Revisão Estratégica da EUMAM Ucrânia” (EUMAM para EU Military Assistance Mission in support of Ukraine), A UE está considerando a possibilidade de realizar treinamentos militares em solo ucraniano, em meio a um momento complicado na guerra. A proposta, que surgiu a partir de um pedido de Kiev, levanta questões sobre riscos, vantagens, e a resposta potencial da Rússia a uma presença militar europeia no território ucraniano.
Os europeus já contribuiram com o treinamento de mais de 60 mil combatentes ucranianos, majoritariamente na Polônia e Alemanha, assim como na Espanha e no Reino Unido, entre outros, e este é um componente importante da ajuda militar da OTAN ao país. Agora, o documento indica que Kiev solicita que a formação seja feita dentro da Ucrânia. De acordo com o pedido, esta opção seria “mais rápida, mais rentável e logisticamente mais fácil” do que realizar os treinamentos em países vizinhos.
Esta preferência por treinamentos em solo ucraniano sugere uma tentativa de otimizar o tempo e os recursos em meio à guerra contínua, aproveitando a proximidade para responder mais rapidamente às necessidades do campo de batalha. Segundo o texto, a UE estaria considerando o treinamento em solo ucraniano “caso fossem atingidas as condições políticas e operacionais necessárias”. Ainda, diz o documento que “Seria necessária uma análise aprofundada e mais compreensiva, de modo a avaliar plenamente os riscos e possíveis medidas de mitigação, bem como as vantagens políticas e operacionais de conduzir algum treinamento”
O presidente francês Emmanuel Macron se mostrou aberto à ideia de treinar tropas na Ucrânia, endossada por países como a Lituânia, enquanto outros como a Alemanha se mostraram temerosos que isso possa escalar as tensões com a Rússia e colocar em risco a vida dos instrutores ocidentais enviados para a Ucrânia. Este temor não é sem motivo, visto os fortíssimos indicativos de que numerosos “acessores militares” da OTAN teriam sido eliminados pelos russos em seus bombardeios estratégicos (ainda mais fortes com as estranhas mortes repentinas de militares americanos, franceses, poloneses, etc).
Essas preocupações estão refletidas no documento: “É altamente provável que uma presença militar da UE em solo ucraniano seja percebida pela Rússia como uma provocação”, afirma o texto, acrescentando que “não é viável” para a UE proteger os instrutores enviados para a Ucrânia. Também é válido lembrar que centenas, se não milhares, de militares da OTAN foram enviados à Ucrânia desde antes da “Operação Militar Especial” russa (momento em que a guerra tinha uma menor escala e intensidade), como os 600 SAS britânicos que ali estavam, oficialmente como instrutores.
Potenciais Riscos e Benefícios
O debate sobre a realização de treinamentos militares da UE na Ucrânia envolve uma análise complexa dos riscos e benefícios. Por um lado, realizar os treinamentos diretamente na Ucrânia poderia proporcionar vantagens operacionais significativas, como tempos de resposta mais curtos e a adaptação imediata às necessidades táticas das forças ucranianas, já mencionados, mas também poderia servir como um gesto simbólico de apoio firme da UE à Ucrânia, reforçando o compromisso europeu com a defesa da integridade territorial ucraniana.
Por outro lado, os riscos são consideráveis. A presença de forças da OTAN em solo ucraniano, mesmo que apenas para fins de treinamento, poderia ser interpretada pela Rússia como uma escalada direta do envolvimento europeu no conflito. Especialmente se considerarmos o número de “mercenários” e “voluntários” europeus que integram unidades das forças ucranianas, com diversos rumores de que boa parte sejam operadores de forças especiais de países da OTAN, de forma extraoficial obviamente. Isso poderia resultar em respostas pesadas de Moscou, potencialmente exacerbando a situação de segurança na região, e possivelmente colocando em risco os ativos humanos ou materiais empregados no esforço de guerra ucraniano pela aliança.
O documento também menciona alternativas para os treinamentos. Em vez de realizar as atividades em solo ucraniano, a UE poderia optar por treinamentos em países vizinhos da Ucrânia, como Polônia e Romênia, onde os riscos de retaliação russa ou de complicações logísticas seriam significativamente menores, e ainda seriam próximos para contribuir com a rapidez da prontidão.
Até o momento, o documento foi discutido pelos embaixadores no Comitê Político e de Segurança da UE e está previsto para ser debatido em uma reunião futura de ministros de Assuntos Exteriores e de Defesa. A questão central que deve ser enfrentada pelos ministros é como balancear o apoio necessário à Ucrânia sem provocar uma escalada direta com a Rússia.
Peter Stano, o porta-voz principal de assuntos exteriores da UE, optou por não comentar sobre o documento, indicando que a discussão ainda está em um estágio sensível e preliminar. Essa postura também pode refletir a cautela da UE em não alimentar especulações públicas que possam ser usadas pela Rússia como pretexto para aumentar as tensões.
Se a UE decidir avançar com o treinamento em solo ucraniano, essa decisão marcará uma nova fase no envolvimento europeu no conflito, demonstrando despreocupação em escalonar as fricções com a Rússia. Esta postura ocidental com relação à Rússia está levando a intensificações perigosas, com cenários futuros mais graves se tornando mais possíveis, cujos impactos seriam aterrorizantes e já chamam a atenção de todo o mundo.