A guerra na Ucrânia, além de se desenrolar no campo de batalha, também ocorre no plano simbólico, onde Rússia e Ucrânia travam uma intensa guerra de narrativas principalmente nas redes sociais. Um episódio recente ilustra essa grande disputa: a chegada dos caças F-16 à Ucrânia e as reações russas, que buscaram desqualificar o poder dessas poderosas armas fornecidas pelo Ocidente.
Entre 14 e 20 de agosto, a Ucrânia recebeu 61 aeronaves F-16, fornecidas pela Dinamarca e Holanda, com o objetivo de reforçar sua defesa aérea. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, afirmou em entrevistas que os F-16 fortaleceriam o “escudo aéreo” contra os “terroristas russos”. Esse movimento, segundo Kyev, representa um passo extremamente importante para afastar os ataques que têm devastado áreas civis e importantes regiões agrícolas no país.
Pilotos ucranianos já iniciaram os testes em outro front de defesa, o uso dos novos caças Gripen suecos, visando fortalecer ainda mais sua capacidade aérea do país.
Retórica que tenta desacreditar o poder militar da Ucrânia
Por sua vez, o Kremlin reagiu com uma retórica destinada a minar o impacto do apoio militar ocidental nas redes sociiais e mídia em geral. Em um esforço claro para deslegitimar a relevância do uso das novas aeronaves, autoridades russas organizaram uma exposição de armamentos em Moscou, promovendo a superioridade de seu arsenal militar. Sergei Shoigu, ministro da Defesa russo, declarou que o equipamento ocidental, incluindo os F-16, seria “imperfeito” e que a produção de armamentos russos, apesar das sanções internacionais, havia se fortalecido.
As declarações, para os ucrânianos, contrastaria com a realidade do campo de batalha. A ofensiva ucraniana tem realmente mostrado avanços, como a recente retomada de Urozhayne, enquanto a Rússia sofreu significativas perdas de tropas e equipamento. Moscou expressa preocupação com a entrega de munições de longo alcance e clusters para as Forças Armadas ucranianas, convocando o Conselho de Segurança da ONU para debater o apoio militar dos Estados Unidos e da Europa a Kyev.
Com a chegada dos F-16 e outros sistemas de defesa, como os lançadores IRIS-T da Alemanha e o sistema antidrone CORTEX TYPHON do Reino Unido, a Ucrânia fortaleceu realmente sua defesa aérea e sinaliza que continuará a resistir à invasão russa, numa guerra que parece interminável. A escalada militar também se reflete no aumento de tensões no Mar Negro, onde recentes ataques russos a navios comerciais evidenciam a tentativa de Moscou de restringir as exportações ucranianas.
Por fim, enquanto o Ocidente reforça as sanções contra o Kremlin e a cooperação militar da Rússia com aliados como a Coreia do Norte aumenta, a guerra de narrativas segue em curso principamente com o uso de redes sociais como o “X” e sites ligados ao governo russo, como o Sputinil, RT e Tass. De um lado, a Rússia tenta deslegitimar as conquistas militares ucranianas e o apoio ocidental. Do outro, a Ucrânia continua a construir uma imagem de resistência e fortalecimento, tanto militar quanto diplomático. Nesta batalha paralela, as palavras são tão cruciais quanto as armas.
Dificildades com a manutenção dos F16
Uma reportagem da RT, publicada em 31 de agosto de 2024, mostra o esforço russo em deixar claro para o mundo que os ucrânianos podem ter problemas com a manutenção dos caças F16. O site russo diz ainda que os EUA podem se recusar a enviar técnicos para o país. “A comunidade de inteligência levantou preocupações sobre a possibilidade de a Rússia ter como alvo contratados americanos na Ucrânia”, publicou o site, dando ênfase à frase, que foi publicada inicialmente no Wall Street Journal.
O site diz ainda, sutilmente levando leitor a crer quer que a falta de técnicos pode prejudicar a operação das aeronaves: “um F-16 requer “horas de serviço para cada hora de voo”, com dezenas de pessoal de suporte geralmente trabalhando em cada avião… No início desta semana, Kiev confirmou a perda de seu primeiro F-16, que teria caído na segunda-feira, matando seu piloto. A mídia ucraniana disse que os investigadores estavam investigando problemas técnicos e erro do piloto como as possíveis razões.”
A guerra de narrativas reflete os esforços de cada lado para moldar a opinião pública global e ganhar ou não apoio político e militar de diversos países. Enquanto a Rússia tenta se afirmar como uma potência militar capaz de resistir às sanções e ao gignatesco cerco ocidental que cada vez aumenta, a Ucrânia, com o apoio de seus aliados, busca mostrar que seu exército está cada vez mais preparado para retomar o controle de seu território.
Robson – Revista Sociedade Militar