A maior parte das notícias sobre salários dos militares não leva em conta certas nuances particulares da carreira militar que fazem muita diferença entre a verdade e a generalização. Por exemplo, repete-se à exaustão em determinados nichos da imprensa não especializada que os militares seriam privilegiados, que seriam marajás do serviço público, etc. Há alguma veracidade nisso, mas não totalmente…
Isso se deve em grande parte a uma percepção equivocada tanto da imprensa quanto de lideranças político-partidárias que insistem em enxergar o organismo militar como um bloco homogêneo. Essa visão é falaciosa e, claro, gera ruídos de comunicação.
Quando se diz que “o militar” é privilegiado, toma-se uma parte quase insignificante pelo todo e a partir daí se faz um julgamento míope.
ESTAMENTOS MILITARES
É preciso não perder de vista que a atividade militar é uma amostra fiel da sociedade brasileira. E o Brasil, como país histórica e socialmente desigual que é, não poderia reproduzir uma sociedade militar igualitária. Seria, além de contraditório, praticamente impossível.
Assim, temos aquilo que poderíamos chamar do classismo estrutural brasileiro espelhado na organização da vida militar.
Se há classes na vida civil – conquanto não tão sinalizadas, nem tão estanques – consequentemente há classes na vida militar – já estas bastante marcadas e delimitadas.
MILITARES DISTRIBUÍDOS POR CLASSES SOCIAIS
Desenvolvendo um pouco mais o teor da matéria publicada na Revista Sociedade Militar, convertemos num gráfico os números da Lei nº 11.320/2006, que trata do efetivo da Força Aérea, conjugados com os salários recebidos genericamente pelos estamentos da hierarquia militar, do soldado até o oficial general.
Na figura a seguir, está representada a estratificação da sociedade militar da Força Aérea Brasileira. Ela também representa com pouquíssimas distorções a Marinha e o Exército.
Segundo a Lei nº 11.320/2006, o efetivo da FAB é de 80.937 militares, do soldado até o tenente-brigadeiro comandante da Força.
Na figura abaixo vemos como as classes sociais brasileiras se distribuem pela hierarquia militar.
Uma matéria da Infomoney mostrou que a classe D (que tem renda mensal domiciliar até R$ 2,9 mil) representa mais de 50% da população brasileira.
Já na Força Aérea (ressalvando-se o quantitativo de pessoal, ocorre o mesmo com Exército e Marinha do Brasil), a classe D é representada por 13,01% do pessoal.
Isso se estende por alguns meses, quando então o Recruta é promovido a Soldado de 2ª Classe e “pula” para a faixa acima.
A classe C, para os 33,3% de brasileiros que ganham entre R$ 2,9 mil e R$ 7,1 mil, nos quartéis é uma massa composta de Soldados de 2ª e 1ª Classes combinados com Terceiros-Sargentos. São pouco mais de 42%.
O próximo patamar da nossa pirâmide invertida é o mais heterogêneo, já que vai do Segundo-Sargento ao Major-Brigadeiro.
Essa fatia, que na sociedade brasileira representa os 13,2% da classe B, na caserna é representada por quase 45% dos militares. Esse contingente enorme de militares circula entre os entre os 10% mais ricos do Brasil.
Por fim, temos a praticamente imperceptível classe dominante. Os 2,8% dos brasileiros que tem renda mensal superior a R$ 22 mil, os ultra ricos, nos quartéis da Força Aérea, são representados por 9 Tenentes-Brigadeiros.