O principal evento de defesa da China, o Fórum Xiangshan, que reuniu cerca de 20 chefes de defesa, incluindo os representantes da Rússia e da Ucrânia, destacou a crescente rivalidade entre as duas potências. Especialistas chineses apontam que a posição dos EUA em relação a Taiwan é o principal motivo para a deterioração das relações.
Taiwan: Disputa geopolítica e estratégica
Além da disputa geopolítica por Taiwan, a ilha possui uma importância estratégica global devido à sua produção de semicondutores, responsável por mais de 90% da produção mundial desses componentes essenciais para diversas tecnologias. Os EUA buscam limitar o acesso da China a esses chips, fortalecendo suas alianças e criando cadeias de suprimentos mais seguras.
A “contradição fundamental” entre EUA e China
De acordo com informações do South China Morning Post, o Tenente-General He Lei, ex-vice-presidente da Academia de Ciências Militares do Exército de Libertação Popular (PLA), afirmou que os EUA têm como objetivo manter sua hegemonia global e impedir a reunificação da China com Taiwan, o que considera uma “contradição fundamental” entre os dois países. Ele destacou que a questão de Taiwan é a maior barreira para o diálogo militar entre Pequim e Washington.
“Os EUA querem dominar o mundo e suprimir a China, e não querem que a China seja unificada. Essa é uma contradição fundamental [entre as duas nações]”, disse.
A política de “uma só China” sob ameaça?
Wu Xinbo, diretor do Centro de Estudos Americanos da Universidade Fudan, ecoou esse sentimento, dizendo que os EUA estão “usando a questão de Taiwan cada vez mais” e sugerindo que isso leva Pequim a acreditar que Washington não está mais comprometido com a política de “uma só China”, princípio segundo o qual haveria apenas uma China, incluindo a China Popular, Taiwan, Tibete, Hong Kong, Macau e Xinjiang.
Esta política, que reconhece que há apenas um governo legítimo na China (o de Pequim), tem sido uma base das relações internacionais envolvendo Taiwan. No entanto, Wu acusou os EUA de, abertamente ou de forma velada, incentivar a independência de Taiwan, algo que considerou muito perigoso.
Baseado na política de “uma só China”, Wu defendeu que os EUA devem unir forças com a China para evitar a independência de Taiwan, além de criar um ambiente propício para uma futura reunificação pacífica entre a China continental e a ilha. Ele também sugeriu que uma negociação direta entre Pequim e Taipé (capital de Taiwan) seria o caminho ideal.
“O segundo passo é que todos os lados – Pequim, Washington e até mesmo Taipé – possam trabalhar para criar um ambiente favorável à reunificação pacífica final”, disse Wu.
Laços militares e o futuro de Taiwan
O fórum ocorre em um momento delicado nas relações entre os dois países. Embora os laços militares tenham sido retomados recentemente após uma interrupção em 2022 — desencadeada pela visita da então presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi, a Taiwan —, a tensão em torno da ilha permanece alta. A China considera Taiwan parte de seu território e tem usado pressões militares constantes, como o envio diário de aviões e navios de guerra para a área ao redor da ilha.
Os EUA, por sua vez, afirmam seguir a política de “uma só China”, mas também têm um compromisso legal de fornecer armas para a defesa de Taiwan. Esse apoio militar é uma grande preocupação para Pequim, que não descarta o uso da força para garantir a reunificação. No entanto, o governo dos EUA evita encorajar a independência formal da ilha.
Rick Waters, ex-subsecretário de Estado adjunto dos EUA para China e Taiwan, presente no fórum, enfatizou que a questão de Taiwan não deveria ser decidida apenas pelos EUA e pela China, mas também pelo povo taiwanês, destacando a importância da vontade dos 23 milhões de habitantes da ilha no processo.
Waters, atualmente no Eurasia Group, disse que não viu evidências de que Taiwan esteja buscando formalmente sua independência, e que a política dos EUA não apoia tal movimento. Ele também expressou dúvidas sobre as intenções finais da China, questionando se Pequim estaria realmente criando incentivos para uma eventual reunificação pacífica com Taiwan.
Semicondutores: A joia da Coroa
No entanto, a disputa por Taiwan vai além da simples geopolítica. Conforme noticiado pela Revista Sociedade Militar em artigo recente, a ilha é o lar de uma indústria de semicondutores altamente avançada, responsável por mais de 90% da produção mundial de chips de última geração. Essa dependência tecnológica global torna Taiwan um alvo estratégico tanto para os EUA quanto para a China.
Os Estados Unidos veem a dominância chinesa na produção de semicondutores como uma ameaça à sua segurança nacional e à sua liderança tecnológica. Por essa razão, Washington tem implementado medidas para restringir o acesso da China a chips avançados, buscando criar uma cadeia de suprimentos mais segura e menos dependente da China. A inclusão da Índia nessa aliança global é um exemplo claro dessa estratégia.