Dois pesquisadores dos Estados Unidos anunciaram a descoberta do que acreditam ser o local de implantação do novo míssil nuclear russo 9M730 Burevestnik. A arma, promovida pelo presidente russo Vladimir Putin como “invencível”, é um míssil de cruzeiro com propulsão nuclear e alcance praticamente ilimitado, capaz de escapar das defesas antimísseis dos EUA. Entretanto, especialistas ocidentais questionam a real eficácia e segurança dessa arma, levantando preocupações sobre potenciais riscos de radiação e acidentes.
A descoberta foi feita com base em imagens de satélite capturadas em 26 de julho pela empresa Planet Labs, que revelam um projeto de construção ao lado de uma instalação de armazenamento de ogivas nucleares conhecida como Vologda-20, localizada a cerca de 475 km ao norte de Moscou. A instalação, que também é chamada de Chebsara, contém cinco bunkers para armazenar ogivas nucleares e foi identificada como um possível local de lançamento para o míssil Burevestnik, conhecido pela OTAN como SSC-X-9 Skyfall.
Decker Eveleth, um analista da organização de pesquisa CNA, foi quem identificou as imagens e avaliou que nove plataformas horizontais de lançamento estão em construção no local. As plataformas estão organizadas em três grupos, cercadas por barreiras que podem proteger contra ataques ou evitar a detonação acidental de outros mísseis armazenados nas proximidades. Além disso, as barreiras estão ligadas por estradas a prédios que Eveleth acredita serem destinados à manutenção dos mísseis e seus componentes.
A descoberta sugere que a Rússia está avançando com a implantação do Burevestnik, apesar dos problemas em testes anteriores. Jeffery Lewis, do Instituto Middlebury de Estudos Internacionais, revisou as imagens a pedido de Eveleth e concordou com a avaliação. Segundo Lewis, as imagens indicam algo “muito único e muito diferente”, reforçando a suspeita de que a Rússia está desenvolvendo esse míssil nuclear.
Hans Kristensen, da Federação de Cientistas Americanos, também analisou as imagens e afirmou que elas “possivelmente” mostram as plataformas de lançamento do Burevestnik. No entanto, Kristensen ressaltou que não poderia fazer uma avaliação definitiva, pois a prática habitual de Moscou é manter ogivas nucleares longe de seus locais de lançamento, exceto no caso de mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) já implantados.
O histórico do Burevestnik inclui pelo menos 13 testes conhecidos desde 2016, dos quais apenas dois tiveram algum sucesso parcial, segundo o Nuclear Threat Initiative (NTI). Em 2019, uma tentativa de recuperação de um reator nuclear não protegido, que permaneceu no fundo do Mar Branco por um ano após o acidente de um protótipo, resultou em uma explosão que causou a morte de cinco funcionários da agência nuclear russa Rosatom.
Especialistas, como Pavel Podvig, um especialista baseado em Genebra, acreditam que o Burevestnik não oferece novas capacidades que a Rússia já não possua, além de representar um risco significativo devido ao potencial de liberar radiação ao longo de sua trajetória de voo. Além disso, há temores de que seu desenvolvimento possa agravar a já tensa situação geopolítica, especialmente com a aproximação do término do tratado New START em 2026.
Até o momento, tanto o Ministério da Defesa russo quanto a embaixada russa em Washington se recusaram a comentar a descoberta e as implicações do Burevestnik, que continua a ser uma preocupação central para as relações internacionais e a estabilidade nuclear global.
Com informações de: Reuters