A América Central, tradicionalmente conhecida como uma rota de passagem para o tráfico de cocaína da América do Sul para os Estados Unidos, agora enfrenta uma nova e preocupante realidade: a região também começa a se destacar como produtora da droga. A corrupção e a falta de vontade política agravam ainda mais esse cenário. Além de ser um caminho entre as grandes rotas do narcotráfico, a região está cada vez mais envolvida na produção de cocaína, o que intensifica a violência e a criminalidade local.
Mesmo países tidos como exemplos de paz e prosperidade na região, como a Costa Rica, não escapam desse fenômeno. Um relatório recente do Departamento de Estado dos EUA destacou que, desde 2020, a Costa Rica se tornou um dos principais pontos de escala para o transporte de cocaína, tanto para os Estados Unidos quanto para a Europa. Isso provocou um aumento significativo nos crimes relacionados ao tráfico e um avanço da corrupção no país.
Redução nos índices de violência relacionados ao tráfico em comparação a 2020
Embora o governo costarriquenho tenha tomado medidas para combater essa crise, o problema ainda persiste. O ministro da Segurança Pública da Costa Rica, Mario Zamora, reconheceu a gravidade da situação, mas destacou que o país conseguiu uma redução nos índices de violência relacionados ao tráfico em comparação a 2020. No entanto, a realidade é que o narcotráfico na Costa Rica é apenas uma peça de um quebra-cabeça muito maior que envolve toda a América Central.
Guatemala e Honduras: pilares do tráfico de drogas
Enquanto a Costa Rica tenta lidar com a situação, Guatemala e Honduras continuam sendo os principais pontos de transporte de cocaína na região. Segundo Alex Papadovassilakis, analista da InSight Crime, esses países têm se consolidado como os maiores facilitadores do transporte de drogas, em grande parte devido à sua localização estratégica e infraestrutura portuária. Porém, eles não estão sozinhos. Países como Panamá e El Salvador também desempenham papéis importantes nessa rede de tráfico, muitas vezes devido à facilidade de acesso às rotas marítimas e áreas remotas.
As condições geográficas de países como Honduras, Guatemala e Belize são particularmente adequadas para o cultivo de coca, o que torna esses locais ideais para a produção da droga. Segundo um estudo da Universidade de Ohio, 47% da região norte da América Central apresenta características biofísicas favoráveis ao cultivo da coca. Este fator tem contribuído para a diversificação dos pontos de produção, rompendo o monopólio da América do Sul na produção de folhas de coca, e levando à criação de novas rotas de tráfico.
Novos desafios: uso de áreas protegidas e diversificação de mercados criminosos
Um dos aspectos mais alarmantes desse cenário é o uso de áreas protegidas para o cultivo e transporte de drogas. Carolina Duque, pesquisadora do Celiv, alerta que as máfias estão se expandindo para terras protegidas, instalando pistas de pouso clandestinas e plantações, o que contribui para o desmatamento e a degradação da biodiversidade da região. Esse fenômeno aumenta o alcance do narcotráfico e ameaça diretamente o meio ambiente da América Central.
Outro fator que agrava a situação é a diversificação dos mercados criminosos. O tráfico de pessoas, por exemplo, tem crescido de forma alarmante, exacerbando a vulnerabilidade dos países da região. A crise migratória fornece terreno fértil para a atuação das redes criminosas, que aproveitam a falta de controle e infraestrutura adequada para expandir suas operações além do narcotráfico.