O Exército Brasileiro é uma instituição que carrega consigo um legado de defesa da pátria e um compromisso com a proteção da soberania nacional. No entanto, algumas práticas indicam uma crescente desconexão entre os valores fundamentais da instituição e as decisões tomadas pelas lideranças. A multiplicidade de escândalos e gastos questionáveis, apresentados em diversas publicações, revela uma mentalidade elitista que privilegia poucos e ignora as necessidades reais da maioria dos militares e da sociedade brasileira, e que infelizmente estão levantando dúvidas até mesmo à idoneidade dos militares por parte da população, como atestado em inúmeros comentários pela internet.
Extravagâncias Desnecessárias
Um dos aspectos mais alarmantes que emerge é o padrão de gastos excessivos e desnecessários por parte das lideranças militares. Um exemplo claro é o contrato de buffet do Comando do Exército, avaliado em R$ 684 mil, que inclui pratos luxuosos como salmão e filé mignon destinados a eventos de alta cúpula. Esses gastos contrastam fortemente com a realidade da maioria dos brasileiros, e até mesmo da própria tropa, que enfrenta desafios econômicos e dificuldades diárias para garantir o básico.
A escolha de um buffet caro e ostentoso para poucos reflete uma desconexão alarmante com as condições econômicas do país e uma priorização de privilégios que não condizem com os valores de austeridade e disciplina que deveriam guiar as Forças Armadas, mas também evidenciando a discrepância no tratamento do alto oficialato e do restante da tropa, especialmente com os praças.
Além disso, o Exército gastou R$ 841 mil na compra de espadas de ouro para generais, itens que servem mais como símbolos de status do que como ferramentas funcionais para a melhoria das capacidades militares. Em um contexto onde recursos poderiam ser melhor utilizados para aprimorar a infraestrutura e o treinamento das tropas, tais compras são um reflexo claro de prioridades distorcidas que favorecem uma elite dentro da instituição, ignorando as necessidades mais prementes dos militares de patentes mais baixas e da própria estrutura de defesa nacional
Pessoal no Exterior
Outro aspecto crítico é o elevado gasto com viagens internacionais para oficiais do Exército, muitas vezes para cursos que poderiam ser realizados na modalidade à distância. Relatórios indicam que essas viagens custaram cerca de R$ 56 milhões apenas em 2023, um valor exorbitante considerando que muitas dessas capacitações poderiam ser feitas de forma remota e com custos significativamente menores. Esta prática não apenas demonstra uma falta de planejamento e gestão eficiente dos recursos públicos, mas também indica um favorecimento de status, onde o prestígio de uma formação no exterior é valorizado mais do que a eficácia e o custo-benefício para a instituição, e sutilmente também o desfrute de viajar ao exterior.
O custo dos salários de militares brasileiros no exterior é alarmante, totalizando cerca de R$ 830 milhões por ano. Enquanto isso, as necessidades internas, como melhores condições de trabalho e treinamento para os militares no Brasil, as aquisições, as manutenções, as pesquisas e os projetos estratégicos continuam a ser negligenciados.
As despesas com salários de militares no exterior, principalmente nos Estados Unidos, onde se concentram muitos dos altos oficiais, contrastam fortemente com a realidade dos militares que servem dentro do país. Este tipo de gasto privilegia uma pequena parcela dos militares, enquanto as necessidades básicas e de desenvolvimento profissional dos que estão na linha de frente são frequentemente ignoradas.
Formação de Castas Militares
Ainda no tocante à discrepância entre verdadeiras castas militares, a estrutura salarial dentro do Exército também revela disparidades significativas que alimentam a percepção de elitismo. Enquanto oficiais superiores desfrutam de salários elevados e benefícios adicionais, grande parte da tropa enfrenta salários baixos e condições de trabalho que estão longe do ideal. Essa disparidade catalisa a barreira entre os comandantes e os comandados, resultando em um descontentamento generalizado e em uma quebra de confiança na liderança.
Esta disparidade reforça a percepção de que a elite militar prioriza benefícios pessoais e de status em detrimento do fortalecimento coletivo das Forças Armadas, e pior ainda, da própria soberania e segurança nacional. A manutenção dessas políticas elitistas contribui para a perpetuação de um ambiente de desigualdade e de falta de coesão dentro da instituição.
Favorecimento em Licitações
Ainda, há também um outro aspecto sendo recorrentemente levantado, que são possíveis favorecimentos nas licitações das Forças Armadas. A relação do Exército e da Marinha com a Starlink, por exemplo, é outro ponto que levanta preocupações significativas sobre a gestão de recursos e os critérios de contratação. Reportagens apontam que contratos foram firmados para a aquisição de serviços de internet via satélite com suspeitas de favorecimento em licitações, o que levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a abrir uma investigação sobre o caso. Curiosamente, o advogado da Starlink é justamente filho do General Tomás Paiva, o comandante do Exército.
O contrato com a Starlink, que também foi defendido pela Marinha e pela Defesa sob o argumento de modernização das comunicações, envolve milhões de reais e suscita discussões sobre a dependência de tecnologias estrangeiras para funções estratégicas, especialmente havendo alternativas nacionais. Essas parcerias, que deveriam melhorar as capacidades operacionais, são obscurecidas por falta de transparência e possíveis irregularidades, colocando em risco a credibilidade da instituição e questionando a real necessidade desses contratos.
A insistência em parcerias com grandes corporações estrangeiras, sem uma análise transparente dos custos-benefícios e sem explorar plenamente alternativas nacionais, reflete um viés que favorece interesses externos e coloca em xeque a soberania tecnológica e operacional do Brasil.
Imagem das FA e as Ameaças Impostas
Ao depender de parcerias controversas e de tecnologias estrangeiras, como no caso da Starlink, o Exército não apenas coloca em risco sua independência operacional, mas também expõe o país a vulnerabilidades estratégicas. Em um cenário geopolítico onde a autossuficiência e a proteção de informações sensíveis são cruciais, a preferência por soluções externas sobre as nacionais enfraquece a posição do Brasil e coloca em risco sua segurança nacional.
O Exército Brasileiro tem a responsabilidade de ser um pilar de segurança e desenvolvimento para o país, mas para isso, precisa urgentemente corrigir os rumos de suas práticas internas. A mentalidade elitista e os gastos excessivos que priorizam poucos em detrimento da tropa e da nação não apenas enfraquecem a instituição, mas também minam a confiança pública nas Forças Armadas.
Ao adotar uma postura de transparência, responsabilidade e compromisso com o interesse nacional, o Exército pode não apenas se fortalecer internamente, mas também se afirmar como um exemplo de gestão pública eficiente e alinhada aos valores da nação. Que este seja um momento de reflexão e de ação concreta, para que as Forças Armadas do Brasil possam continuar a ser motivo de orgulho e confiança para todos os brasileiros.
Observação: O autor deste texto foi testemunha ocular de vários casos relacionados aos aspectos abordados, além de receber testemunhos de vários militares, entre praças e oficiais.