Uma excelente iniciativa tem se tornado um apoio essencial aos profissionais de segurança pública. O projeto começou em maio deste ano e já conta com mil atendimentos no combate ao mal do século. Essa ação faz parte da parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais e a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Além de Pernambuco e Alagoas, o projeto abrange outros estados, como o Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Maranhão e Sergipe.
O apoio psicológico conta com 42 terapeutas e atende os seguintes profissionais: agentes da Polícia Militar, da Polícia Civil, da Polícia Penal e do Corpo de Bombeiros Militar, além de peritos criminais. O programa, chamado Escuta Susp, oferece suporte online, o que aumenta sua visibilidade e alcance em qualquer lugar. A atuação inclui avaliação, aconselhamento e psicoterapia. Segundo o profissional idealizador do projeto, o diagnóstico e a conduta do tratamento são realizados nos primeiros encontros.
Assim, já é possível identificar se o paciente precisará de psicoterapia ou apenas de aconselhamento psicológico, o que pode resolver situações mais simples de forma mais rápida. Caso o profissional apresente queixas mais recorrentes ou complexas, ele será encaminhado para psicoterapia, que deve durar de 20 a 25 sessões, dependendo da situação. Vale ressaltar que, mesmo após a alta, o profissional de segurança pública poderá retornar ao projeto caso sinta necessidade.
Combate ao mal do século
Embora a proposta seja em formato remoto, se o profissional estiver em situação de risco ou vulnerabilidade, poderá ser acolhido presencialmente e encaminhado de forma adequada. Outro ponto interessante é que o paciente poderá trocar de terapeuta, se necessário. De acordo com os profissionais de saúde, a depressão, ansiedade e estresse estão entre os transtornos mentais mais frequentes entre policiais.
Os altos índices de problemas psicológicos se explicam pela pressão constante e pelo contato frequente com a violência, além do desgaste emocional. Os casos de suicídio entre profissionais de segurança pública atingiram a marca de 30 por 100 mil habitantes, segundo o Anuário de Segurança Pública de 2023. Os problemas psicológicos e o livre acesso às armas tornam essa taxa cada vez mais frequente. Apesar da necessidade de atendimento e da existência de programas de amparo, os profissionais de segurança pública ainda enfrentam dificuldades para procurar ajuda.
Dificuldades enfrentadas pelos policiais
O preconceito dentro da própria corporação e a dificuldade de reconhecer que precisam de ajuda são alguns dos fatores que dificultam o acesso ao tratamento. Na Escuta Susp, por exemplo, o percentual de mulheres atendidas é muito maior, superando 50% do número de homens. O Jornal da Universidade de São Paulo relatou um estudo que identificou que o suicídio é a segunda maior causa de morte entre policiais no Brasil, e os dados também revelam um crescimento de mais de 26% em comparação aos anos anteriores.
As pesquisas também apontam que a taxa de suicídio na categoria é oito vezes maior do que na população geral, o que leva especialistas em saúde mental a afirmar que há problemas estruturais de ordem psicológica entre as corporações, principalmente motivados por estresse, sobrecarga de trabalho e contato com extrema violência. A professora do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP ainda relata que os problemas psicológicos também advêm dos baixos salários em relação às muitas horas de trabalho, o que leva os profissionais a buscar outras fontes de renda e os torna mais suscetíveis à estafa e frustração.
Outra barreira ao atendimento no combate ao mal do século pode ser explicada pelo fato de que a grande maioria dos atendimentos é realizada por policiais de alta patente, o que pode ocasionar vergonha, medo de confronto, preconceito ou represália por parte dos colegas. Isso ressalta a importância do programa Escuta Susp, que tem a proposta de ampliação do atendimento para todo o território nacional a partir de janeiro de 2025. Para ter acesso ao atendimento, é preciso se cadastrar no site, seguir o passo a passo e marcar os encontros on-line.