A possibilidade de a Coreia do Sul se tornar um país com armas nucleares está ganhando força em debates internos e internacionais. De acordo com matéria publicada pelo Foreign Policy, a crescente ameaça nuclear da Coreia do Norte e o temor de um possível enfraquecimento da aliança com os Estados Unidos — caso Donald Trump retorne ao poder — estão impulsionando essas discussões a ponto de o Ministro da Defesa sul-coreano admitir que a aquisição de armas nucleares pela Coreia do Sul é sim uma opção.
Crescimento do debate nuclear
Durante sua audiência de confirmação no início deste mês, o novo Ministro da Defesa sul-coreano, Kim Yong-hyun, afirmou que adquirir armas nucleares está “entre todas as opções possíveis” para lidar com a Coreia do Norte. Políticos sul-coreanos têm flertado com essa ideia como forma de demonstrar força ao público doméstico, intimidar a Coreia do Norte e buscar mais influência nas negociações com os EUA.
Nos últimos anos, até figuras americanas têm se mostrado mais abertas à ideia. O ex-secretário de Estado Mike Pompeo chegou a declarar que “não há razão para nos opormos” à Coreia do Sul desenvolver suas próprias armas nucleares. Pesquisas também indicam que a maioria dos sul-coreanos apoia essa iniciativa, apesar de poucos estudos abordarem os possíveis custos dessa escolha.
O desafio de construir um arsenal nuclear
Para equiparar-se à Coreia do Norte, que possui cerca de 50 armas nucleares, a Coreia do Sul precisaria criar um arsenal significativo. O país provavelmente teria que construir mísseis nucleares lançados por submarinos, que são mais difíceis de destruir em um ataque. Contudo, esse processo é caro e demorado, podendo levar mais de 10 anos para se concretizar.
Durante esse período de construção, a Coreia do Sul estaria vulnerável a ataques preventivos de seus adversários, como a própria Coreia do Norte e a China, que poderiam tentar impedir o avanço do programa nuclear sul-coreano.
A proteção dos EUA estaria em risco?
A relação com os Estados Unidos também é um ponto delicado. Se a Coreia do Sul avançar com seu programa nuclear, esperaria que os EUA continuassem oferecendo sua proteção até que o novo arsenal estivesse pronto. No entanto, esse apoio não é garantido. Muitos americanos poderiam argumentar que, ao desenvolver suas próprias armas nucleares, a Coreia do Sul deveria se defender sozinha.
A retirada de tropas americanas da península coreana, após mais de 70 anos, enfraqueceria a aliança entre os dois países e colocaria em dúvida a credibilidade das promessas de segurança dos EUA a seus aliados em todo o mundo.
Armas nucleares aumentariam risco de guerra?
A história mostra que quando novos países adquirem armas nucleares, o risco de conflitos aumenta nos primeiros anos. Isso ocorreu, por exemplo, durante a Guerra Fria, quando EUA e União Soviética enfrentaram crises nucleares, e entre Índia e Paquistão logo após ambos desenvolverem seus arsenais.
Se a Coreia do Sul se nuclearizar, é provável que a Coreia do Norte e a China tentem impor sanções ou até mesmo atacar preventivamente. Essa escalada de tensões poderia facilmente envolver os Estados Unidos, aumentando o risco de uma guerra no nordeste da Ásia.
O impacto das sanções
Outro desafio seria lidar com as sanções internacionais. A lei americana exige que os EUA imponham sanções econômicas e militares a qualquer país que teste armas nucleares. Isso poderia prejudicar gravemente a economia sul-coreana. A China, um dos principais parceiros comerciais da Coreia do Sul, também poderia impor sanções severas, como fez em 2016, quando Seul instalou defesas antimísseis dos EUA.
Além disso, a Coreia do Sul poderia enfrentar restrições de países europeus e de outros membros do G-20, o que traria ainda mais dificuldades econômicas e diplomáticas.
O futuro da não proliferação nuclear
O sistema global de não proliferação nuclear, que limita o número de países com essas armas, seria gravemente afetado se a Coreia do Sul desenvolvesse seu próprio arsenal. Isso poderia abrir um precedente perigoso, encorajando outros países a buscar suas próprias armas nucleares, incluindo rivais dos Estados Unidos, como o Irã ou adversários no Oriente Médio.
Ao apoiar a proliferação em um aliado, como a Coreia do Sul, os Estados Unidos perderiam credibilidade na defesa de um sistema internacional baseado em regras e estimulariam uma corrida armamentista global, aumentando o risco de crises nucleares — além, claro, de perder o protagonismo que tem hoje.