“Com todo respeito, as pessoas que estão contra são por motivos políticos, ideológicos. Eu estou defendendo o Exército e que a gente tenha oportunidade de dotar o Exército Brasileiro de equipamentos mais modernos”, disse o ministro da Defesa em entrevista ao jornal Folha de São Paulo dois dias após o desfile cívico-militar em setembro deste ano.
Em 2017, o Exército brasileiro iniciou a licitação para a compra de 36 novos obuseiros. A justificativa central era modernizar esse tipo de equipamento para a artilharia da Força. A maior parte dos obuseiros usados hoje em dia pelo EB são da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O PARECER TÉCNICO-MILITAR
De acordo com fontes militares, que preferiram não se identificar, a vantagem principal da empresa vencedora seria o fato de a companhia israelense ter subsidiárias no Brasil, capazes de produzir munição e oferecer suporte logístico.
O contrato teria uma duração aproximada de oito anos, com pagamentos e entregas dos equipamentos distribuídos ao longo desse período.
Os obuseiros da Elbit Systems formam um projeto chamado Atmos. Diferente dos modelos antigos, o equipamento militar fica incluído em uma viatura blindada de oito rodas — o que permite movimentar a arma com mais facilidade e velocidade.
OS OBUSES E A POLÊMICA IDEOLÓGICA
Os críticos da aquisição afirmam que não faz sentido o governo brasileiro comprar equipamentos militares de um país cuja atuação na Faixa de Gaza é alvo de críticas de Lula.
Eles argumentam que a compra dos obuseiros, que custa quase R$ 1 bilhão, estaria financiando os ataques de Israel contra os palestinos.
A assinatura do contrato foi postergada em maio por decisão de Lula, sem uma nova data prevista para conclusão. Isso ocorreu no contexto do avanço das operações de Tel Aviv na Faixa de Gaza.
“A gente está brigando com uma coisa simples, coisa boba. Não estamos fazendo uma compra gigantesca de Israel […]. Precisava provar que foi o dinheiro dos obuseiros que financiou aquela guerra. Dois obuseiros não movimentam absolutamente nada”, argumentou o ministro da Defesa, José Mucio Monteiro.
QUEDA DE BRAÇO MINISTERIAL
De acordo com militares consultados, Lula teria escutado a proposta de Mucio e solicitado mais tempo para tomar uma decisão. Até o momento, Celso Amorim é o conselheiro presidencial de opinião vencedora.
“Ele tem uma posição igual a minha: firme”, disse Mucio ao comentar o impasse com Amorim. O ministro afirma cumprir seu papel de representar as Forças Armadas e diz que o conselheiro de Lula, por sua vez, o faz com foco na diplomacia.
“Eu não acho que isso seja um problema diplomático —a diplomacia está lá, nós ainda temos relações diplomáticas com Israel. Se o presidente [primeiro-ministro Netanyahu] foi desatencioso [ao declarar Lula como persona non grata], o presidente não representa todo mundo de lá. Eu estou admitindo que eu estou com a banda boa [de Israel]“, afirmou.
TCU PODE RESOLVER O IMPASSE DOS OBUSES
Ainda de acordo com a FSP, nesta quarta-feira (18), o Tribunal de Contas da União (TCU) vai avaliar uma consulta feita pela Defesa sobre o tema. A equipe de Mucio questionou a corte se a legislação brasileira impede a participação em licitações de empresas sediadas em países envolvidos em conflitos armados.
A expectativa é que o tribunal confirme a ausência de restrições para empresas nessas condições — o que, segundo membros da Defesa, poderia superar as resistências no Palácio do Planalto à compra dos obuseiros de Israel.
O Exército planeja substituir cerca de 300 obuseiros antigos por 36 novos modelos israelenses.
Com o impasse no Palácio do Planalto, os líderes militares aguardam uma solução eficaz de Mucio e Amorim para concluir a compra.