O ministro da Defesa José Múcio Monteiro concedeu uma longa entrevista ao Estadão/Broadcast Político no último dia 5 de setembro.
Na entrevista, o ministro falou primeiramente sobre as limitações orçamentárias da celebração do 7 de setembro, como a ausência de helicópteros e caças fazendo acrobacias.
“Vai ser muito bonita. O governo convidou todos os ministros. Evidentemente sem helicópteros, sem aqueles caças voando, porque tudo isso é custo e nós estamos cortando o custo. Não estou nem cortando na carne, eu estou raspando o osso”.
Em seguida, Múcio comentou também das inúmeras maneiras que estão sendo pensadas para manter os projetos estratégicos da defesa mediante os incessantes cortes na pasta, como, por exemplo, o congelamento de R$ 675 milhões anunciado em julho pela equipe econômica do governo.
“Sabe que isso foi acumulado? Há 10 anos que se vem colocando menos na Defesa. Por quê? Este não é um Ministério político. Eu aqui não tenho senadores que possam procurar, deputados que possam procurar. Se eu comprar um avião daquele ali (aponta para uma miniatura de caça Gripen) de 100 milhões de euros, não elejo ninguém. Esse é um Ministério que não dá manchete. Só nos conflitos, nos problemas. Somos uma delegacia de plantão”.
O ministro afirmou que todos das Forças Armadas estão trabalhando para que haja uma solução e confirmou que o orçamento de R$ 133 bilhões previstos pra Defesa em 2025 é insuficiente.
“Pega aquele avião ali (de novo aponta para o Gripen em miniatura): 100 milhões de euros. Isso, em qualquer Ministério, dá para fazer uma farra. Aqui é um avião. É insuficiente para nós, porque temos muitas contas represadas”.
Apesar do cenário extremamente desafiador, Múcio argumenta que faz movimentos o tempo todo para o Congresso aumentar o orçamento da Defesa e que a culpa do caos não é do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
“Ele faz o papel dele. Acho que ele é um brilhantíssimo ministro. Acho que no lugar dele eu faria a mesma coisa se não tivesse passado por aqui (Ministério da Defesa). Sou político há muitos anos. Jamais imaginaria que as dificuldades sejam essas que nós estamos vivendo”.
O ministro da Defesa confirmou que está tentando vender patrimônio imobiliário do Exército, Marinha e Aeronáutica para pôr o dinheiro nos programas estratégicos da Defesa criados no primeiro governo Lula e criticou a mentalidade de que as Forças Armadas existem para os conflitos.
“Ainda há uma mentalidade de que as Forças Armadas são para o conflito. Temos guerra todo dia aqui. São inimigos naturais, são acidentes. A gente não precisa de uma Força Armada para provocar ninguém. A gente precisa ter Forças Armadas fortes para desestimular os provocadores”.
Por fim, Múcio disse que não está descontente com o presidente Lula e que as Forças Armadas entendem que a questão financeira não tem a ver com a relação com o governo, uma vez que, na visão do ministro, está tudo apaziguado entre os militares e Lula.
“Evidentemente que as Forças Armadas pretendiam mais. Eles sabem do meu empenho e sabem que eu estou lutando. Eu trabalho aqui feito um louco para ver se nós podemos reparar isso (recursos para a pasta)”.