Os naufrágios da Segunda Guerra Mundial no Atlântico Sul carregam riscos de desastres ambientais significativos para o Brasil. Entre mais de 500 naufrágios na região, 53 são navios alemães nazistas, e muitos deles ainda possuem cargas potencialmente poluentes, como petróleo e borracha. Pesquisadores brasileiros apontam que essas embarcações afundadas podem representar uma ameaça iminente de contaminação, especialmente para as praias brasileiras.
Há cinco anos, o Brasil enfrentou o maior derramamento de óleo em águas tropicais já registrado, com cinco mil toneladas de petróleo atingindo 130 cidades em 11 estados. Um ano antes, em 2018, fardos de látex, utilizados na produção de borracha, começaram a surgir nas praias do Nordeste, alertando sobre um novo tipo de poluição. Esses materiais foram rastreados até antigos navios nazistas naufragados durante a Segunda Guerra Mundial. Isso demonstrou o impacto duradouro dos conflitos históricos nos ecossistemas marinhos.
A origem dos fardos de borracha: uma herança perigosa
De acordo com pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), a origem dos fardos de borracha encontrados em praias brasileiras está associada a navios alemães afundados durante a guerra. Utilizando simulações matemáticas e estudos de correntes oceânicas entre o Brasil e a África, os cientistas descobriram que esses materiais pertenciam ao MS Rio Grande, afundado em 1944, e ao MS Weserland, que naufragou em janeiro de 1944 no Atlântico Sul.
Os nazistas dependiam do látex para produzir carros, aviões e uniformes durante o conflito, e os navios carregavam toneladas desse material, além de metais preciosos como cobalto e tungstênio. Esses recursos eram essenciais para a máquina de guerra alemã. Para contornar os bloqueios impostos pelos Aliados, os nazistas utilizavam rotas no Atlântico Sul, levando seus navios a enfrentar o bloqueio naval estabelecido pelos Estados Unidos no Nordeste brasileiro.
Estudos recentes indicam que os naufrágios da Segunda Guerra podem liberar gradualmente esses materiais, seja pela deterioração natural dos cascos das embarcações ou pela ação de piratas e empresas irregulares que exploram esses navios em busca de metais preciosos. Essa situação agrava a poluição, especialmente porque muitos desses naufrágios carregam óleo combustível, o que pode desencadear novos desastres ambientais.
Impacto ambiental: derramamento de óleo dos navios e espécies invasoras
Os riscos ambientais vão além dos fardos de borracha. Estudos revelam que muitos desses naufrágios nazistas carregavam enormes quantidades de óleo combustível. Um exemplo é o navio Esso Hamburg, afundado em 1941, que transportava mais de 7 mil toneladas de óleo combustível e 1,2 mil toneladas de óleo diesel. Esses materiais representam uma bomba-relógio ambiental, com potencial de causar danos devastadores às praias brasileiras.
Os naufrágios funcionam como incentivo para a proliferação de espécies invasoras, que utilizam os cascos afundados como habitat. O coral-sol, por exemplo, é uma dessas espécies que, ao se espalhar de naufrágio em naufrágio, altera a biomassa dos peixes e prejudica o ecossistema marinho local. O impacto dessas espécies invasoras é preocupante, pois elas podem alterar o equilíbrio natural e ameaçar a biodiversidade nativa.
Esses riscos destacam a urgência de um monitoramento mais eficaz dos naufrágios no Atlântico Sul. O Brasil não possui uma estrutura robusta para acompanhar a situação dessas embarcações e prevenir possíveis desastres. Ao contrário dos Estados Unidos, que possuem sistemas de monitoramento para identificar cargas e coletar amostras de óleo, o Brasil ainda carece de um plano abrangente para lidar com os riscos associados a esses naufrágios.
Legislações específicas e sistema de monitoramento de navios para prevenir danos ambientais causados pelos naufrágios
Pesquisadores da UFC defendem que o país deve implementar legislações específicas e estruturar um sistema de monitoramento para prevenir danos ambientais causados pelos naufrágios. Estima-se que a carga de navios como o MS Weserland tenha um valor entre 17 e 68 milhões de dólares, considerando o preço dos metais preciosos no mercado global. Isso torna os naufrágios alvos de interesse tanto para empresas legítimas quanto para atividades ilegais.
A exploração desses recursos traz riscos ambientais severos. A extração dos metais pode liberar toneladas de borracha e óleo no mar, exacerbando os problemas ecológicos já enfrentados pelas praias brasileiras. Além disso, as correntes marítimas aumentam a probabilidade de que esses poluentes cheguem rapidamente às regiões costeiras.
Brasil já testemunhou os impactos dessa tragédia e aguarda soluções para minimizar esses riscos
O Brasil já testemunhou os impactos devastadores do derramamento de óleo em 2019, e a história pode se repetir se as embarcações nazistas não forem monitoradas adequadamente. A Marinha do Brasil afirma que realiza inspeções e acompanha incidentes de poluição, mas os números de derramamentos de óleo nos últimos anos mostram que a ameaça persiste.
A solução para minimizar esses riscos envolve uma combinação de monitoramento rigoroso, legislações ambientais e a cooperação internacional para evitar que os naufrágios da Segunda Guerra Mundial causem novos desastres ecológicos no litoral brasileiro.