A Rússia deu um passo crucial e perigoso ao flexibilizar as regras para o uso de seu arsenal nuclear, o maior e mais sofisticado do mundo. Segundo o site russo RIA Novosti, a Rússia fez importantes mudanças em sua doutrina nuclear, reduzindo os limites para o uso de seu vasto arsenal nuclear, o maior e mais avançado do mundo.
As alterações indicam que as armas nucleares poderão ser usadas até contra Estados não nucleares que ataquem a Rússia, se estes contarem com o apoio de uma potência nuclear, como Estados Unidos, Reino Unido ou França. “A lacuna que permitiu às potências ocidentais combaterem a Rússia por procuração foi destruída”, afirmou a colunista Victoria Nikíforova.
Essas mudanças foram anunciadas durante uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, com o objetivo de ajustar a política nuclear do país frente ao que Moscou considera uma crescente ameaça do Ocidente.
O que muda na doutrina nuclear russa?
A doutrina nuclear da Rússia estabelece as regras e condições para o uso de suas armas nucleares. Tradicionalmente, a Rússia reservava esse tipo de armamento apenas para situações em que sua própria sobrevivência estivesse em jogo ou em resposta a um ataque nuclear.
Agora, esse cenário mudou. A nova doutrina permite o uso de armas nucleares até mesmo em resposta a ataques convencionais (não nucleares), caso eles representem uma ameaça crítica à soberania do país.
Segundo Putin, “a agressão contra a Rússia por qualquer Estado não nuclear, mas com o apoio de uma potência nuclear, será considerada como um ataque conjunto”. Ou seja, países como Polônia, Ucrânia e outros membros da OTAN podem ser alvos de ataques nucleares se colaborarem com os EUA, Reino Unido ou França.
A ameaça externa e o papel das potências ocidentais
As mudanças na doutrina visam responder ao que a Rússia chama de envolvimento direto das potências ocidentais no conflito na Ucrânia. Putin acusa os países ocidentais de utilizarem a Ucrânia como um “peão” em um jogo maior para enfraquecer a Rússia, fornecendo armas e apoio militar, sem se envolver diretamente no conflito.
Para o Kremlin, isso representa um confronto que “provoca o mundo para um desastre nuclear”, como afirmou Dmitry Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia.
Proteção à Bielorrússia
Outro ponto importante nas alterações feitas na doutrina nuclear é a inclusão da proteção à Bielorrússia. O país, aliado próximo de Moscou, também está agora sob o “guarda-chuva nuclear” da Rússia.
Putin ressaltou que qualquer ataque à Bielorrússia, mesmo com armas convencionais, pode desencadear uma resposta nuclear russa. Isso visa dissuadir possíveis agressões de países como Polônia e Ucrânia contra o território bielorrusso.
Flexibilidade e eficácia na nova doutrina
A nova doutrina foi ajustada para tornar a política de dissuasão nuclear da Rússia mais flexível e adaptada às novas ameaças, como explicou Andrei Kartapolov, chefe do Comitê de Defesa da Duma. “As mudanças foram feitas para garantir que nossa doutrina corresponda às realidades de hoje e seja mais eficaz”, disse Kartapolov.
Essas realidades incluem as “guerras híbridas” promovidas pelo Ocidente, que combinam métodos tradicionais e não convencionais de ataque, como o uso de drones e ciberataques.
A resposta nuclear contra ataques convencionais
O documento atualizado também amplia o escopo para o uso de armas nucleares em resposta a ataques convencionais em grande escala. “Consideraremos essa possibilidade assim que tivermos informações confiáveis sobre o lançamento massivo de armas de ataque aeroespacial”, afirmou Putin. Isso inclui mísseis de cruzeiro, drones e aeronaves hipersônicas que cruzem a fronteira russa.
Com essas mudanças, a Rússia envia um recado claro aos países da OTAN: qualquer ataque ao território russo ou de seus aliados, mesmo que feito com armas convencionais, pode ser considerado motivo para um ataque nuclear de retaliação.