Um tribunal da Rússia sentenciou o físico Alexander Shiplyuk a 15 anos de prisão sob a acusação de traição. Shiplyuk, um cientista de renome de 57 anos, era diretor de um instituto científico na Sibéria, envolvido no desenvolvimento de mísseis hipersônicos, uma tecnologia de ponta que permite transportar cargas a velocidades superiores a Mach 10. Sua prisão, em agosto de 2022, foi parte de uma série de detenções de especialistas ligados a programas militares estratégicos. Outros dois cientistas, Anatoly Maslov e Valery Zvegintsev, também foram presos, e Maslov, de 78 anos, foi condenado a 14 anos em maio.
Os casos de traição relacionados à tecnologia militar estão se tornando mais frequentes na Rússia, e as acusações contra Shiplyuk apontam para a suspeita de que ele teria compartilhado informações confidenciais em uma conferência científica na China em 2017. No entanto, o cientista nega as acusações, afirmando que as informações eram de domínio público e estavam disponíveis online.
Sentença de traição em um tribunal fechado
O julgamento de Alexander Shiplyuk ocorreu a portas fechadas, uma prática comum nos processos de traição na Rússia, onde a acusação de espionagem ou vazamento de segredos militares recebe atenção especial das autoridades de segurança. O advogado de Shiplyuk não se pronunciou publicamente sobre um possível recurso, deixando incerto se o cientista planeja contestar a decisão judicial. O Kremlin, ao comentar sobre o caso, declarou que se tratava de “acusações muito graves”, reforçando que o caso está nas mãos dos serviços de segurança do Estado russo.
O Instituto Khristianovich de Mecânica Teórica e Aplicada (ITAM), onde Shiplyuk trabalhava como diretor, é um dos principais centros de pesquisa em mísseis hipersônicos, localizado em Akademgorodok, uma importante base científica na região de Novosibirsk. Junto a seus colegas detidos, Shiplyuk fazia parte de um pequeno grupo de elite que trabalhava no desenvolvimento dessa tecnologia militar que a Rússia alega ser essencial para manter sua superioridade estratégica.
Tecnologia de mísseis hipersônicos: trunfo da Rússia
A Rússia se orgulha de ser líder mundial no desenvolvimento de mísseis hipersônicos, armas que podem escapar das defesas antimísseis convencionais e atingir alvos a velocidades superiores a 10 vezes a velocidade do som (aproximadamente 12.350 km/h). Esses mísseis representam uma inovação no campo militar, sendo capazes de carregar ogivas nucleares ou convencionais e representar uma séria ameaça em cenários de combate modernos.
O ITAM, onde Shiplyuk liderava projetos de pesquisa, tem colaborado diretamente com o complexo militar-industrial da Rússia, o que torna a acusação de traição ainda mais delicada. O instituto está oficialmente registrado como parte integrante da infraestrutura militar russa, o que significa que qualquer vazamento de informações pode comprometer a segurança nacional.
Os cientistas Maslov e Zvegintsev, que trabalhavam diretamente com Shiplyuk, também enfrentam acusações similares. O caso deles reflete uma tendência crescente de desconfiança do governo russo em relação a seus próprios especialistas, especialmente aqueles com acesso a informações estratégicas sensíveis.
Vazamentos de segredos para a China
Segundo fontes ligadas ao caso, Shiplyuk teria compartilhado materiais supostamente confidenciais durante uma conferência na China, embora ele insista que os dados divulgados não estavam sob sigilo e podiam ser encontrados online. A crescente tensão entre a Rússia e o Ocidente torna qualquer relação com países estrangeiros, como a China, ainda mais suspeita aos olhos das autoridades russas.
Além disso, a imprensa estatal russa relatou que vários outros cientistas também foram presos por supostamente repassar segredos para a China. Essa situação reflete a postura cada vez mais rígida do governo russo em proteger suas tecnologias de defesa e manter sua supremacia no desenvolvimento de armamentos de última geração. A condenação de Shiplyuk e seus colegas serve como um lembrete claro da postura inflexível da Rússia em questões de segurança nacional.
A comunidade científica, especialmente no campo da defesa, enfrenta agora uma atmosfera de crescente vigilância e controle, onde a colaboração internacional pode ser vista como um risco direto à soberania e segurança do país. O caso de Shiplyuk destaca o delicado equilíbrio entre o avanço tecnológico e as crescentes preocupações geopolíticas no cenário global.