Há cerca de 3.200 anos em um rio raso no norte da Alemanha um conflito cruel e bárbaro foi travado. Agora, séculos e séculos mais tarde foram encontrados esqueletos e ossos marcados por ferimentos horríveis, armas de pedra e madeira, além de dezenas de pontas de flechas afiadas de bronze e pedra que contam a história desse dia.
Os arqueólogos ainda se perguntam quem lutou nessa antiga batalha e, principalmente, porquê? Contudo, um estudo publicado nesta semana na Antiquity pode trazer pistas sobre o incidente. De acordo com os pesquisadores, a resposta pode estar nas pontas das flechas usadas no conflito. Para eles, os achados arqueológicos apontam para um exército de moradores locais enfrentando uma força invasora de terras distantes.
“Eles fizeram um caso robusto”, disse Barry Molloy, arqueólogo da University College Dublin que não fazia parte da equipe de pesquisa. “Nós claramente temos um grupo atacando muito além de suas fronteiras sociopolíticas.”
A pesquisa no local teve inicio em 2008. De lá para cá foram realizadas datação por radiocarbono do osso e de outros materiais orgânicos e uma análise química dos ossos, sugerindo que a batalha começou por volta de 1250 a.C. — uma época anterior aos registros escritos.
Flechas e um campo de batalhas
O estudo revelou ainda que as mais de 60 pontas de flechas encontradas no “campo de batalha” e suas respectivas posições indicam uma troca de tiros. Já os ferimentos de flechas nas costas revelam a tentativa de fuga.
Até o momento foram encontrados 150 esqueletos no local, em apenas uma pequena fração do local de escavação. Isso sugere também que o conflito envolveu centenas ou até milhares de combatentes, descartando a ideia de que as comunidades locais é que teriam iniciado o conflito com uma rixa qualquer.
Armas cruéis
Um dos pesquisadores decidiu então ampliar o estudo e tentar determinar de onde as flechas poderiam ter sido trazidas. Para isso, o arqueólogo e autor principal do estudo Leif Inselmann, da Universidade Livre de Berlim, criou um catálogo de 4.743 pontas de flechas da Idade do Bronze encontradas na Europa Central e do Norte, datadas da época da batalha de Tollense, e então as classificou em diferentes tipos com base no formato, tamanho e outras características.
Em seguida, ele as plotou em um mapa. Na época da batalha de Tollense, ele descobriu que pontas de flechas de sílex e desenhos de bronze relativamente simples dominavam o norte da Alemanha.
Enquanto isso, pessoas que viviam centenas de quilômetros ao sul estavam produzindo pontas de projéteis de bronze mais complexas, como uma ponta de flecha farpada de aparência cruel com uma ponta lateral projetada para capturar e rasgar carne.
“Essas não aparecem no norte”, diz Inselmann — exceto, isto é, por um par encontrado a algumas centenas de metros da travessia do rio Tollense.
Para o pesquisador, é improvável que as pontas de flecha tenham chegado ao vale por meio do comércio. Embora o bronze possa ter sido importado para a fabricação de espadas e machados de batalha, “para pontas de flecha — que você atira uma vez e depois elas somem — provavelmente não valia a pena”, diz Inselmann.
Em vez disso, ele argumenta, as pontas de flechas de bronze farpadas e outras armas complexas do sul em Tollense foram provavelmente trazidas para o norte e disparadas por arqueiros do sopé dos Alpes, ao redor do que é hoje a Baviera. “A grande questão que todos gostariam de responder”, diz Inselmann, “é por que eles estavam lutando tão ao norte?”
Tempos de bárbarie
Alguns arqueólogos dizem que a carnificina em Tollense pode ter sido apenas uma das muitas cenas desse tipo em meio ao caos continental durante o século XIII a.C. Naquela época, sociedades em toda a Europa central e meridional — incluindo a região onde as pontas de flecha incomuns de Tollense se originaram — começaram a construir fortes e assentamentos murados.
Talvez os conflitos ao sul dos Alpes tenham causado efeitos cascata até a borda do Mar Báltico, expulsando grupos de suas terras e fazendo com que eles avançassem para o norte em busca de novos territórios.
Com informações da Revista Science