O tema das discrepâncias salariais entre os diferentes escalões das Forças Armadas brasileiras voltou a ganhar destaque recentemente, tanto na imprensa quanto nas redes sociais. O artigo publicado pela Revista Sociedade Militar, apontando a desproporção gritante entre os soldos de generais e os de praças, gerou uma onda de comentários, particularmente nas redes sociais da Revista Sociedade Militar e do perfil Militar Audaz no Instagram. Os debates mostram um forte descontentamento com a realidade salarial no âmbito militar, evidenciando uma divisão interna que afeta o moral da tropa.
A disparidade salarial entre generais e o restante da tropa
De acordo com o artigo, enquanto um soldado recém Ingresso nas Forças Armadas brasileiras recebe um salário em torno de R$ 1,3 mil, um general no topo da hierarquia pode ganhar até mais que R$ 36 mil mensais. Essa diferença de 27 vezes entre os postos mais baixos e mais altos da carreira militar tem provocado indignação entre a tropa, especialmente quando comparada com outras forças, como a Polícia Rodoviária Federal, onde a diferença entre o menor e o maior salário é significativamente menor.
Além disso tudo, alguns generais no último posto da carreira dos militares, como o General de Exército Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, chegam a receber adicionais que elevam seus salários a valores acima de R$ 55 mil, o quer torna seu ganho bruto mensal equivalente ao salário de 42 soldados.
A indignação é palpável e impressiona nas redes sociais, com muitos usuários criticando o que veem como uma falta de vontade de conceder melhores condições de vida para os militares de patentes mais baixas. Um dos comentários mais curtidos no Instagram reflete esse sentimento: “Ficaram à vontade para praticamente triplicar o salário deles!!! Enquanto o praça se arrebenta com migalhas!!” — criticou @beto77castilho.
A visão da tropa: insatisfação crescente
A análise dos comentários postados nas redes sociais da Revista Sociedade Militar e do canal Militar Audaz revela um sentimento predominante de insatisfação com a estrutura salarial atual das Forças Armadas. Dos comentários analisados, aproximadamente 75% dos usuários expressaram desaprovação com a disparidade entre os soldos de generais e praças, classificando os salários dos generais como “desproporcionais” ou “absurdos” em relação à realidade do restante da tropa.
Um dos comentários mais representativos dessa insatisfação foi postado por @edilson25belog: “A tropa está abandonada, mentem quando falam em coesão e camaradagem, infelizmente foram 31 anos ouvindo essas mentiras.” O comentário reflete um sentimento recorrente de abandono, que se repete em outras falas. Um seguidor, identificado como @vcguimaraesjr, expressou sua frustração de forma contundente: “Será que um dia, essa discrepância covarde será corrigida?… estamos abandonados e sem visibilidade.”
Além disso, os comentários postados mostram que a insatisfação transcende o fator financeiro e toca também na questão da valorização moral e ética. Muitos usuários veem a diferença salarial como um reflexo de um problema estrutural mais profundo.
Percentual pequeno defende os altos salários dos generais
Apesar da ampla maioria expressar insatisfação com a disparidade salarial, uma minoria de aproximadamente 15% dos comentários nas redes sociais defendeu, ao menos em parte, os altos salários dos oficiais generais. O argumento principal dessa parcela é que os oficiais generais da Marinha, Exército e Força Aérea ocupam posições de extrema responsabilidade e que, portanto, seus salários são justificáveis.
@cunhacelso, por exemplo, afirmou que “não é o salário dos comandantes que é alto, e sim o dos soldados que é baixo”, sugerindo que o foco deveria estar no aumento dos salários da base. Outros argumentaram que todos ingressam nas Forças Armadas cientes das diferenças salariais e da progressão de carreira. “Todos entram sabendo quanto ganha, qual a perspectiva de salário e qual cargo poderá chegar, insatisfação vai existir em toda carreira, é só ler o edital”, comentou @xxxxxxxxco.
Comparações internacionais e a realidade brasileira
Outro ponto levantado tanto no artigo quanto nos comentários nas redes sociais é a comparação com forças armadas de outros países, como os Estados Unidos, apresentado no artigo inicial com um infográfico. Lá, um soldado recém – ingresso na carreira militar recebe cerca de 2 mil dólares mensais (10 mil reais) , enquanto um general de última patente ganha em torno de 18 mil dólares (90 mil reais). Isso significa que, no Exército dos Estados Unidos, a diferença salarial entre a base e a cúpula é de nove vezes, bem menor do que no Brasil.
A comparação com a Polícia Rodoviária Federal e as forças de segurança estaduais no Brasil também reforça a sensação de injustiça. Vários comentários, como o de @dduartemoreira, mencionaram a migração de militares das Forças Armadas para outras carreiras de segurança, como a Polícia Militar do Rio de Janeiro, onde os salários são mais atrativos para os postos de entrada.
Um estudo divulgado pelo G1 em abril de 2024 mostra que a parcela mais rica dos brasileiros, que equivale a 1% da população, recebe mais que 20.664 reais mensais, todos os oficiais generais do Exército, Marinha e Aeronáutica estão incluídos nesse grupo.
Soluções e perspectivas para o futuro propostas pelos próprios militares nos comentários
O debate sobre a disparidade salarial nas Forças Armadas brasileiras aparentemente está longe de acabar. O atual ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, tem defendido a visão da cúpula das Forças Armadas sobre a questão salarial. O aumento da visibilidade do tema, especialmente nas redes sociais, onde a questão militar já está em alta há vários anos e se soma com as questões políticas, está ampliando a pressão sobre as autoridades para reverem a política de remuneração dos militares. Entretanto, as movimentações, quando ocorrem, são mais perceptíveis no poder legislativo.
Algumas sugestões foram propostas pelos próprios militares nos comentários, como a inversão do escalonamento salarial, onde os maiores reajustes seriam aplicados às patentes mais baixas. Essa ideia foi defendida por @drjoanirdossantos: “Por que não inverter essa situação, invertendo o escalonamento vertical da tabela de soldos?”
Por outro lado, há quem veja pouca esperança de mudanças significativas no curto prazo. “Não há horizonte de uma melhora salarial decente, a quem não mais interessar a carreira que busque o melhor, boa sorte!”, comentou @pedrxxxxxxx, refletindo o ceticismo de parte da tropa em relação a uma possível solução para o problema.
Revista Sociedade Militar
Referências principais: Transparência do Governo Federal