Durante os anos de operações no Oriente Médio, as forças de operações especiais dos Estados Unidos conduziram uma série de ações secretas e de alta complexidade na caçada por Saddam Hussein e seu círculo íntimo, muitas das ações jamais foram relatadas. Entretanto, alguns operadores hoej na reserva vez por outra deixam escapar detalhes em conversas, podcasts e entrevistas.
Um dos operadores da Delta Force mais conhecidos dos EUA, John “Shrek” McPhee, em uma rara e detalhada entrevista, compartilhou algumas de suas lembranças sobre algumas dessas operações ocorridas no Iraque, oferecendo uma visão interna dos bastidores das missões para capturar aqueles que mantinham contato direto com o ditador iraquiano. Dentre esses relatos, um dos mais curiosos envolve uma operação de inteligência bastante interessante e a captura das amantes de Saddam Hussein.
O início da missão, a amante favorita
É importante estar atento a detalhes do que o veterano explica e estar atento ao que pode estar implicito, nas entrelinhas. Operadores de forças especiais sabem muito bem que não são combatentes convencionais, que sua organização, seu adestramento e até os equipamentos são diferenciados daqueles utilizado pelas tropas regulares e por isso há necessidade de se avaliar qualquer relato para que não se corra o risco de revelar algo que seja útil para potenciais inimigos.
O veterano norte-americano começa relembrando a atmosfera de uma das suas primeiras missões em solo iraquiano. “Saddam tinha uma amante favorita. Ela não era bonita, mas era casada, e achávamos que ela poderia saber seu paradeiro”, afirmou. A equipe, em busca de pistas sobre a localização do ditador, decidiu capturar o marido da mulher, na esperança de obter informações valiosas.
A missão se destacava pelo luxo do ambiente onde o operador foi destacado. Ele descreveu o cenário surreal em que se encontrou ao chegar no Iraque: “Meu escritório era uma mesa de mármore de 60 pés de comprimento, em uma sala cheia de símbolos do partido Baath no teto. Era uma sala imponente, com pisos de mármore e chuveiros de ouro. Eu pensei, ‘Isso é guerra?’.” Esse contraste entre o cenário opulento e as realidades brutais da guerra no Iraque ajudava a sublinhar o ambiente bizarro em que as forças especiais americanas operavam.
Operações frenéticas e capturas intensas
A rotina da Delta Force era exaustiva. O militar veterano descreveu como sua unidade realizava várias operações por noite, invadindo vilarejos inteiros em busca de informações sobre Saddam. “Era uma operação atrás da outra, noite após noite. Nós limpávamos vilarejos inteiros, às vezes 100 casas por noite, sempre atrás de alguma pista sobre o paradeiro de Saddam.”
Nessa busca implacável, a captura da amante e seu marido era apenas uma pequena peça do quebra-cabeça. O militar relembrou um episódio curioso em que usou uma tática inusitada para conseguir realizar a captura. “Eu estava em uma van de vigilância, assistindo tudo, e disse para meus caras começarem uma briga na rua, se necessário, para tirar todos de dentro da loja. Eles começaram a lutar, todo mundo saiu para assistir, e foi quando nossa equipe de assalto capturou o alvo.”
Esse tipo de improviso e rapidez de raciocínio eram essenciais em operações de alto risco como essa. No entanto, apesar da captura da amante e de seu marido, isso não trouxe as informações desejadas. “Pensamos que capturar o marido poderia ajudar, mas não ajudou em nada. Mesmo assim, continuamos capturando todos no círculo íntimo de Saddam.”
A descoberta inesperada: O círculo cristão ao redor de Saddam
Um dos detalhes mais intrigantes revelados por Shrek foi a descoberta de que muitos dos membros do círculo íntimo de Saddam Hussein eram cristãos. “Se alguém tocasse Saddam, se fosse para vesti-lo ou dar banho nele, era cristão”, revelou.
Essa escolha do ditador era bastante estratégica, segundo o operador. Ele sabia que os cristãos, diferentemente dos muçulmanos, acreditavam que cometer assassinato levaria à condenação eterna. “Ele mantinha cristãos ao seu redor porque sabia que eram menos propensos a tentar matá-lo”, explicou.
O impacto da captura de Saddam em todo o planeta e o freio que ele seria contra o Irã
Saddam Hussein foi capturado em dezembro de 2003, nove dias após Shrek deixar o Iraque. “Eu e outro cara trabalhamos na inteligência de Saddam o tempo todo. Capturamos seu alfaiate, a pessoa que fazia suas roupas”, contou. Durante a operação o veterano se viu em posse de um dos itens pessoais mais icônicos de Saddam. “Eu tenho o chapéu de pele de raposa que ele usava no famoso vídeo em que dispara sua arma no ar.”
Apesar de estar envolvido nas operações que levaram à captura do ditador, o veterano admite que a remoção de Saddam Hussein do poder pode não ter sido a melhor decisão estratégica. “Tirar Saddam foi terrível para o mundo. Veja onde estamos agora. Eu o teria mantido no poder e o usado contra o Irã novamente”, disse ele, refletindo sobre a instabilidade que se seguiu à queda do regime iraquiano.
Saddam Hussein foi capturado em 13 de dezembro de 2003 pelas forças dos Estados Unidos, durante a Operação Red Dawn, perto de Tikrit, sua cidade natal. Ele foi julgado e condenado à morte por enforcamento por crimes contra a humanidade, o ponto forte da acusação foi o massacre de 148 xiitas em Dujail, em 1982. Saddam foi executado em 30 de dezembro de 2006, em Bagdá.
A entrevista completra no canal Shawn Ryan Clips
Robson Augusto – Militar RRM, jornalista, especialista em inteligência e marketing