A decisão de realizar um evento de música eletrônica com open bar na histórica Ilha Fiscal, no Rio de Janeiro, veiculada em artigo da Revista Sociedade Militar, gerou uma onda de indignação entre oficiais da Marinha do Brasil que participam de grupos de Whatsapp. O local, que abrigou o último grande baile do Império em 1889, será palco de uma festa denominada “Ritual” no dia 30 de dezembro, com ingressos chegando a R$ 1.045,00.
A controvérsia evidencia um choque entre o tradicionalismo militar característico da Marinha do Brasil e as novas tendências de entretenimento. A Ilha Fiscal, parte do Complexo Cultural da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM), fez parte da história de vida de muitos militares, que trabalharam no local e praticaram exercícios físicos por ali desde os primeiros anos de vida militar. A edificação é considerada por muitos oficiais como um “solo sagrado”, representando valores e tradições centenárias da instituição.
Preocupações com o acesso e segurança
Uma questão particularmente sensível levantada por oficiais em grupos de discussão refere-se à segurança e logística do evento. “Quem vai fazer a guarda da entrada no Distrito, o quarto de serviço? Provavelmente sim, serão nossos próprios militares!”, questionou um oficial, evidenciando preocupação com o uso de efetivo militar para um evento privado de entretenimento.
Outro ponto crítico levantado diz respeito à segurança dos participantes: “E se alguém cair na água, como fica?”, indagou um militar, ressaltando os riscos inerentes à realização de uma festa com bebida liberada em uma ilha cercada pela Baía de Guanabara.
A Marinha do Brasil, em seu “folder” promocional, chega a ressaltar que o local tem privacidade e segurança
… Ao charme, elegância e requinte da Ilha Fiscal, soma-se a privacidade e segurança, devido a sua localização junto às instalações da Marinha. Todos esses atributos são a garantia de sucesso, tornando os eventos realizados no local …
Reações nas redes sociais
A análise dos comentários nas redes sociais revela um sentimento predominante de desaprovação entre militares e simpatizantes das Forças Armadas. Destacam-se três manifestações particularmente enfáticas:
“A casa está desarrumada faz tempo! Não sei pq tal indignação e surpresa com tal fato! Isso é Brasil!” – comentou um usuário, sugerindo que este é apenas mais um sintoma de um problema maior.
“Falta comando faz tempo…” – observou outro internauta, criticando a atual gestão da instituição.
“Sem noção!!!” – resumiu um terceiro comentarista, expressando a perplexidade com a decisão.
O Peso da história e conflito de gerações
O evento planejado representa uma ruptura significativa com a tradição do local, o que também de certa forma pode estar servindo como atração para o evento. A Ilha Fiscal, construída há dois séculos, sempre foi um símbolo de solenidade e respeito na Marinha brasileira. O último baile do Império, realizado em suas dependências, é um marco histórico que reforça sua importância simbólica.
A resistência dos militares ao evento não se resume apenas à questão do uso do espaço, mas também reflete uma preocupação com a preservação de valores institucionais. A presença de bebidas alcoólicas e música eletrônica em um local tradicionalmente associado à disciplina e sobriedade militar causa especial desconforto.
Enquanto alguns defendem que a ilha deveria ser utilizada exclusivamente para fins militares e eventos solenes, outros argumentam que sua utilização para eventos culturais e sociais poderia ser uma forma de aproximar a instituição da sociedade civil. Esta divergência de opiniões reflete um debate mais amplo sobre a modernização das instituições militares e sua relação com a sociedade contemporânea.
Impacto na Imagem Institucional
A decisão de ceder o espaço para um evento desta natureza levanta questões sobre a gestão do patrimônio histórico militar e sua preservação. Para muitos oficiais, não se trata apenas de uma questão de uso do espaço, mas de manter a dignidade e o respeito associados a um local de significativa importância histórica e institucional, fazer com que a história seja sempre associada a situações que correspondem ao status do local.