O antropólogo Piero Lernier, um dos mais renomados especialistas em questões ligadas aos militares das Forças Armadas, autor do livro “
traz em postagem em suas redes sociais uma crítica contundente às recentes declarações de Lula sobre as mudanças na base do PT e as transformações nas relações de trabalho.Segundo o estudioso, a fala do atual presidente reaquece um debate que já foi abordado há anos, como o diagnóstico da Fundação Perseu Abramo e até mesmo em entrevistas da ex-presidente Dilma Rousseff em 2014. Para Piero Lernier, colocar a culpa no contexto abstrato das mudanças nas relações de trabalho, como justificativa para os resultados eleitorais, é uma forma de “jogar a responsabilidade no éter”, sem abordar questões concretas que afetam diretamente a classe trabalhadora.
No post percebe-se destaque para a importância do uso do celular como uma nova ferramenta imbricada no cotidiano da classe trabalhadora, abrangendo desde os trabalhadores de aplicativos até operários, vendedores e até profissionais da limpeza. Ele observa que essa transformação tecnológica afeta diretamente o tempo e o modo de trabalho, mas que o PT parece não possuir ainda uma estratégia clara para lidar com essas mudanças ou para se conectar com essa nova dinâmica.
” Mas, se é assim, bora pensar no óbvio: o que mais mudou nas relações de trabalho? Não só os “empreendedores individuais”, mas toda classe trabalhadora de uma forma ou de outra imbricou seu tempo ao uso do celular. Os trabalhadores de aplicativo? Obviamente. Mas também os trabalhadores da construção civil, operários, vendedores, pessoal da limpeza: todo mundo com o celular na mão o dia todo. Já vi lixeiro catando lixo com uma mão e segurando o celular com a outra.”
A “lúmpen-burguesia”
Segundo ele, o PT não tem condições de se identificar com o que chama de “lúmpen-burguesia”, e outros atores políticos no momento estão mais preparados para ocupar esse espaço.
“Nem Lula vai conseguir mudar a dinâmica atual da luta de classes e das relações capital-trabalho, nem o PT vai passar a ser o partido identificado com essa lúmpen-burguesia, porque tem gente mais competente para isso.”
A crítica de Lernier também se volta para a maneira como o governo lida com a comunicação nas redes. Ele sugere que, em vez de investir grandes quantias em estratégias tradicionais de comunicação, o partido poderia adotar táticas mais ágeis e incisivas nas redes sociais, como já faz a direita há algum tempo, que construiu sua base durante anos em plataformas como quase esquecido Orkut e em lives com figuras como Olavo de Carvalho.
Lernierm por fim, ironiza bastante a forma como o governo investe milhões em comunicação enquanto alternativas mais diretas e econômicas poderiam surtir efeitos muito mais rápidos.
O campo de batalha agora está nas redes sociais
O estudioso critica o que vê como uma visão muito ultrapassada do governo, que ainda se foca em fazer concessões e na comunicação formal, sem perceber que o campo de batalha das ideias e da política já se deslocou para outro ambiente, as redes, onde a dinâmica é extremamente mais veloz e competitiva. Ele sugere que essa falha de compreensão pode custar caro, tanto na questão das relações de trabalho quanto no impacto eleitoral.
Robson Augusto _ Revista Sociedade Militar