Severino Theodoro de Mello é considerado hoje um dos mais importantes infiltrados do regime militar no PCB (Partido Comunista Brasileiro) a partir dos anos 70.
A história dele é contada no livro Cachorros – A História do Maior Espião dos Serviços Secretos Militares e a Repressão aos Comunistas até a Nova República. O livro é de autoria do repórter e colunista do Estadão, Marcelo Godoy.
Cachorros era a forma com que eram chamadas as pessoas que tinham mudado de “lado” e contribuíam com o regime com documentos, fotos e relatos das organizações de esquerda.
Mello teria contribuído por cerca de 20 anos com a inteligência militar na considerada “mais duradoura operação de espionagem da República”. Segundo o jornalista, as informações passadas por Mello sob o codinome de Vinicius tiveram efeito devastador para a sigla comunista e causaram, pelo menos, a morte de 10 dirigentes do partido. Geralmente após longas sessões de tortura.
Em entrevista à Folha de São Paulo, Godoy afirmou que ouviu diversos agentes militares. “E todos me falaram que as quedas relacionadas ao PCB tinham vindo do Mello. Me diziam que só tinham conseguido avançar na repressão ao partido por causa dele”.
Uma das entrevistadas pelo repórter é Anitta, filha de Prestes e Olga Benário. “Não havia nenhuma desconfiança em relação ao Mello. Ele era um companheiro antigo –era de 35– e depois sempre foi de toda a confiança da direção e sempre esteve ligado aos aparelhos do partido”.
Em 2016, o PPS (Partido Popular Socialista), que sucedeu o PCB, retirou Mello de seus quadros. Mas a revelação de que ele era um espião a serviço da caserna aconteceu em 1992 durante entrevista do ex-agente Marival Chaves ao repórter Expedito Filho, da revista Veja.
No entanto, os colegas de militância levaram tempo para acreditar que Mello pudesse ser um infiltrado, principalmente por ter sio próximo de Prestes por década. Ele morreu em 2023 aos 105 anos.