No dia 17 de Outubro, o canal Middle East Spectator publicou em suas redes dois documentos recebidos de uma “fonte bem informada da comunidade de inteligência dos EUA”, sendo este um vazamento importantíssimo e alarmante para as agências americanas, com um documento da Agência de Segurança Nacional (NSA) e outro da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial (NGIA), essa sendo parte do Departamento de Defesa do país.
Em um dos documentos é possível notar a destinação dos reportes para os aliados estadunidenses do Five Eyes. Apesar de os documentos terem sido comprovados como verídicos, nem as agências referidas nem o Pentágono ou o FBI se pronunciaram, mas autoridades deram declarações para algumas redes de notícias, como para a CNN, onde um funcionário declarou que o vazamento é “profundamente preocupante”.
Mick Mulroy, ex-subsecretário assistente de defesa para o Oriente Médio e um oficial aposentado da CIA, disse que “se for verdade que os planos táticos israelenses para responder ao ataque do Irã em 1º de outubro vazaram, é uma violação séria” e ainda que “a coordenação futura entre os EUA e Israel também pode ser desafiada. A confiança é um componente-chave no relacionamento e, dependendo de como isso foi vazado, essa confiança pode ser corroída”.
Plotadas movimentações e preparativos
Os documentos detalham os preparativos israelenses para um ataque iminente ao Irã, revelando informações críticas sobre movimentações militares, exercícios aéreos e operações de armas estratégicas. As revelações incluem o uso de mísseis balísticos de longo alcance, com codinomes desconhecidos do público, como “Golden Horizon” e “Rocks”, e a realização de exercícios de combate e reabastecimento aéreo que indicam que o ataque estava em fase avançada de preparação. A operação, descrita nos documentos da NGIA, envolveria a participação de UAVs e caças F-15, prontos para a execução de bombardeios de precisão em instalações nucleares iranianas.
De acordo com as informações, desde o início de outubro, a Força Aérea Israelense manuseou esses mísseis em suas bases de Hatzerim, Ramot David e Ramon, com a movimentação de pelo menos 16 mísseis “Golden Horizon” e 40 mísseis “Rocks”, ambos capazes de causar danos massivos. O exercício de grande escala incluiu um exercício LFE em 15 de outubro para praticar reabastecimento ar-ar e operações de busca e resgate de combate com um grande número de aeronaves, incluindo pelo menos três aviões-tanque KC-707, uma aeronave G-550 Gulfstream AWACs e possivelmente jatos de combate.
Possível vazamento intencional
Já fazem meses que a liderança americana busca frear as ações israelenses e encontrar uma forma de congelar o conflito presente, para evitar a deflagração de um conflito regional, especialmente com a aproximação das eleições nos Estados Unidos. Repetidas vezes o próprio presidente dos EUA, Joe Biden, deu declarações no sentido de buscar uma forma de apaziguar a situação para evitar um escalonamento que fuja do controle. Israel tem agido no contrafluxo destes esforços.
Os EUA estão pressionando intensamente para que Israel não ataque as infraestruturas nucleares do Irã, e que evite as ligadas à produção de petróleo, justamente o contrário do que Israel está objetivando. Essas divergências, somadas ao timing do vazamento levamtam suspeitas de que não tenha sido um acidente. O presidente Biden, declarou recentemente que sabe como e quando Israel responderá aos ataques de mísseis iranianos, embora tenha se recusado a fornecer mais detalhes.
Obviamente, as autoridades estão falando sobre possível infiltração por hacker, mas existe a possibilidade real de que as agências de inteligência tenham deliberadamente “deixado escapar” os documentos, de modo a atrasar, obstaculizar ou até mesmo impedir a realização da operação israelense. Algo do tipo não seria a primeira vez a acontecer.
O uso das redes sociais, destacadamente em comunidades de OSINT, contribui para disfarçar esta possibilidade de imediato. Curiosamente, o compartilhamento dos documentos foi feito com um canal oficialmente sediado no Irã, o que também pode servir como uma forma de bode espiatório, já que as autoridades americanas podem alegar que isso teria ligação com uma campanha de guerra cibernética iraniana, que já alegam ocorrer por exemplo contra as disputas eleitorais no país.
Por outro lado, desta forma também poderia passar mais direcionadamente a mensagem para os iranianos, se a ideia fosse permitir que se preparassem melhor para um ataque, de modo a diminuir os riscos de escalada, como é o plano americano.
Impactos do vazamento
Não sabemos se o ataque israelense foi cancelado ou adiado – a princípio não houveram alterações – mas o mais provável é que serão necessárias mudanças se forem prosseguir com o ataque, o que demandará tempo e o levará ao adiamento. É possível que Israel tenha que cancelar a operação e realizar um novo plano de ação por conta do vazamento.
Ainda, se o vazamento retardar o ataque israelense, haverá mais tempo para que o Irã se prepare, como tem feito com a aquisição de equipamentos russos de guerra eletrônica, radares e sistemas de defesa aérea, mas também para que os EUA consigam realizar algum tipo de negociação e/ou manobra diplomática.
De qualquer forma, foi um grande revés para Israel, e isso pode custar a proximidade estratégica entre os países (não de modo a cortar laços), com os próprios israelenses já apresentando questionamentos e descontentamentos com relação aos EUA, similar ao que ocorreu em tempos recentes com Ucrânia e Coréia do Sul, por exemplo.