Após a fabricante sueca de aeronaves Saab revelar no dia 10 de outubro que foi intimada pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos a fornecer informações sobre a venda de 36 caças militares Gripen ao Brasil, o Poder360, grupo de comunicação sobre assuntos políticos, consultou especialistas sobre o fato e divulgou as opiniões no último domingo, 20 de outubro.
Um dos ouvidos pelo repórter Felipe Salgado foi o professor de direito internacional da FGV-RJ (Escola de Direito do Rio de Janeiro da Fundação Getúlio Vargas) e da UFF (Universidade Federal Fluminense), Evandro Carvalho.
Segundo ele, é natural que interesses econômicos se mesclem a interesses geopolíticos relacionados à defesa nacional e, por isso, transações comerciais dessa natureza estão cada vez mais sujeitas a interferências, sobretudo de potências estrangeiras.
“Trata-se de uma rede complexa de exigências jurídicas elaborada para alcançar objetivos de política externa dos EUA. O que causa espanto é imaginar que o Brasil se tornou um país-alvo”.
O especialista também explica que o Departamento de Justiça norte-americano não tem poder de arbítrio sobre o contrato, a não ser que houvesse compromisso jurídico entre a Saab e o governo dos Estados Unidos que restringisse o compartilhamento de componentes tecnológicos do avião.
“Talvez aí sim os EUA tivessem legitimidade para adquirir mais informações da Saab para verificar se houve alguma violação do acordo”.
Evandro Carvalho opinou que talvez a preocupação dos Estados Unidos tenha a ver com a capacidade do Brasil em adquirir caças militares com desenvolvimento tecnológico compartilhado.
Marcos Barbieri, professor de economia da Unicamp e especializado no setor aeroespacial, endossa que o Gripen NG foi a melhor escolha para modernizar a frota da FAB, em detrimento do F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing, e do Rafale, da francesa Dassault Aviation.
“O Gripen NG tinha duas vantagens em relação aos demais: custos de aquisição e operação baixos e compartilhamento de tecnologia que possibilitou empresas brasileiras como a Embraer de participarem da fase final de desenvolvimento do avião”.
O economista destaca o projeto de transferência de tecnologia para capacitar empresas brasileiras. Ele recorda que a Embraer participou do processo de integração dos sistemas do avião.
“O sistema aviônico, por exemplo, foi determinado pelo Brasil: em vez da tecnologia da americana Rockwell Collins, a escolha recaiu sobre o sistema da israelense Elbit, fabricado parcialmente em solo brasileiro”.
Lula também disse que questionamento sobre caças é intromissão dos Estados Unidos
No dia 11 de outubro, o presidente Lula disse em entrevista à rádio O Povo/CBN de Fortaleza que o pedido de informação feito pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos à Saab é uma intromissão dos norte-americanos em decisão soberana do governo brasileiro.
“É descabida essa informação. Não sei qual é a informação que estão pedindo, não quero fazer julgamento precipitado, mas não tem sentido pedir informação de um avião que um país comprou, de um carro que um país comprou”.