Os militares do Exército deram sequência até a última instância da licitação para compra de 36 blindados por R$ 1 bilhão. A vencedora do certame, revelada em abril, foi a israelense Elbit Systems.
Segundo reportagem da revista Veja publicada neste domingo, 20 de outubro, um oficial que acompanha as tratativas de perto disse que o veto de Lula à compra, por questões diplomáticas relacionadas à guerra promovida por Israel contra nações árabes, é um impasse paralelo. E que internamente o trabalho segue para a concretização da compra.
O militar também revelou à Veja que, no início de outubro, o Comando de Logística do Exército encaminhou toda a documentação necessária, presente em centenas de milhares de páginas, para o Estado-Maior dar a assinatura final ao ato. A expectativa, segundo o oficial, é que a análise seja concluída em novembro. “Dando ok, não há porque não assinar”.
Os negociadores que participaram da análise de centenas de critérios das 4 empresas finalistas da licitação afirmaram que a proposta da Elbit foi a mais “agressiva”.
A companhia teria oferecido, como espécie de brinde, armamentos secundários (metralhadora para defesa da viatura), baixou o preço e o prazo de entrega, concordou em enviar 2 blindados para testes 6 meses antes do pagamento e até em instalar fábricas no Brasil para que parte da produção aconteça em território nacional.
Porém, por ordem do Planalto e da Justiça a compra ainda não poderá ser chancelada. O Ministério da Defesa chegou a consultar o TCU (Tribunal de Contas da União) sobre dar andamento à empresa segunda colocada, mas o órgão negou.
Múcio alfinetou Lula na CNI
Recentemente, o governo protagonizou uma treta envolvendo Israel. Em discurso durante evento da CNI (Confederação Nacional da Indústria) no dia 8 de outubro, o ministro da Defesa José Múcio Monteiro afirmou que a diplomacia do governo tem atrapalhado negociações das Forças Armadas.
“A questão diplomática interfere na Defesa. Houve agora uma concorrência, uma licitação. Venceram os judeus, o povo de Israel, mas por questões da guerra, o Hamas, os grupos políticos, nós estamos com essa licitação pronta, mas por questões ideológicas não podemos aprovar”.
Outrora bastante criticado por militares da reserva em grupos de Whatsapp, Múcio passou a ganhar elogios dessa ala, considerada a mais crítica das Forças Armadas ao governo Lula, após o episódio.
Segundo integrantes do Palácio do Planalto ouvidos pela Folha de São Paulo, a declaração de Múcio gerou constrangimento no governo. Entretanto, Lula teria conversado por telefone no dia 10 com Múcio e o tom teria sido amigável.
O próprio Lula relatou que recebeu uma ligação de Múcio “apavorado” após toda a repercussão na mídia do discurso na CNI.
Segundo o presidente, a resposta dada ao chefe da Defesa foi a seguinte: “José Múcio, não se preocupe, aquilo que a gente falou já está falado, já foi explorado, esqueça, toca o barco para frente […] Você não vai perder um centímetro de importância comigo por causa disso”.