Comemorado em 29 de outubro, o Dia Nacional do Livro é uma oportunidade de valorizar o poder transformador da leitura e seu impacto social, cultural e principalmente educacional no Brasil. A data celebra a fundação da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro em 1810, a primeira e mais antiga instituição do tipo no país. Mais do que uma simples comemoração, o Dia Nacional do Livro se torna um chamado para promover a leitura, que ainda enfrenta desafios significativos no país, especialmente nas regiões mais vulneráveis.
Um panorama da leitura no Brasil: avanços e obstáculos
De acordo com a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, do Instituto Pró-Livro, apenas 52% da população brasileira leu ao menos um livro no último ano. Este dado revela que quase metade da população ainda não possui o hábito da leitura. Esse indicador reforça a necessidade sobretudo urgente de políticas públicas mais eficientes. Entre os leitores, os gêneros mais procurados são romance, ficção e autoajuda. O levantamento ainda mostra que a escola é a principal fonte de incentivo para 29% dos entrevistados. Contudo, a influência familiar é mínima, com apenas 8% afirmando que foram estimulados a ler pelos pais.
A falta de incentivo e de acesso aos livros resulta em um ciclo de baixa procura e de escassos recursos destinados ao setor. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em média, há uma biblioteca para cada três escolas no país. Essas instituições muitas vezes carecem de acervo atualizado e infraestrutura adequada. Em áreas rurais e periferias, a situação é ainda mais alarmante, com raras bibliotecas públicas e pouquíssimas livrarias.
A importância da escola e da família no incentivo à leitura
De acordo com o professor e educador Fioravanti Stefani Neto, a responsabilidade pelo hábito da leitura não deve recair exclusivamente sobre a escola. Para ele, a participação dos pais é fundamental: “A leitura deveria ser um hábito incentivado em casa, com os pais se envolvendo e demonstrando para as crianças como o livro pode abrir portas para novas ideias e conhecimentos. Quanto mais cedo o contato com os livros, maior a possibilidade de que a leitura se torne um hábito prazeroso e transformador.” Segundo Stefani Neto, o apoio familiar ajuda a criar um ambiente em que o conhecimento é valorizado e estimulado.
Este incentivo em casa é ainda mais importante na era digital, onde a tecnologia, como redes sociais e jogos online, acaba por competir com o tempo e a atenção das crianças. Muitos jovens brasileiros encontram no entretenimento digital uma alternativa mais atraente, o que torna a leitura um desafio constante. A introdução dos livros como ferramenta de prazer e conhecimento se faz essencial para equilibrar as opções de entretenimento e aprendizagem.
Iniciativas públicas para democratizar o acesso ao livro
Apesar dos desafios, algumas iniciativas governamentais têm buscado melhorar o acesso aos livros. O programa “Mais Leitura”, lançado pelo governo do estado do Rio de Janeiro em 2011, oferece livros a preços acessíveis para moradores de comunidades e escolas. Em São Paulo, o programa “Biblioteca Viva” está revitalizando bibliotecas públicas e promovendo atividades culturais que atraem um público mais diversificado, transformando esses espaços em centros de convivência e cultura.
Entretanto, essas ações ainda não são suficientes para cobrir todas as necessidades do país, que possui um território vasto e desigual. A promoção de políticas nacionais permanentes que incentivem o acesso ao livro e à leitura é essencial para que iniciativas como essas não se tornem apenas exemplos pontuais, mas sim uma norma a ser replicada.
O Dia Nacional do Livro é um lembrete de que a leitura tem o poder de transformar vidas. Além de estimular a criatividade e a imaginação, a leitura proporciona ferramentas para uma compreensão crítica da realidade e para o exercício da cidadania. Em um país como o Brasil, onde a desigualdade social é uma questão latente, o acesso aos livros representa uma forma de igualdade de oportunidades.