Mergulhadores russos recentemente iniciaram a inspeção do submarino nuclear K-27, que afundou há 42 anos no Mar de Kara. Este submarino foi originalmente projetado pela União Soviética como parte de um projeto experimental com reatores refrigerados a metal líquido, e desde o seu naufrágio, foi considerado uma instalação de alto risco devido à radiação.
Segundo o Ministério de Situações de Emergência da Rússia, a inspeção está sendo realizada na Baía de Stepovoy. Mesmo diante das temperaturas extremamente baixas da região, os mergulhadores estão preparados para continuar as operações durante o próximo mês. Essa missão se junta ao impressionante histórico da equipe de mergulhadores do Ministério, que nos últimos cinco anos, recuperou mais de 126 mil objetos explosivos de locais submersos.
A História do Submarino K-27 apelidado de Peixinho Dourado
O K-27 teve uma vida operacional curta, mas conturbada. Em 1968, o submarino sofreu um vazamento de radiação em um dos seus reatores, o que resultou na morte de nove tripulantes. O submarino foi oficialmente retirado de serviço em 1979, três anos depois, afundado no Mar de Kara. Este submarino era o único do Projeto 645, desenvolvido com o propósito de ser um submarino de ataque nuclear experimental. Equipado com dois reatores nucleares VT-1 refrigerados a chumbo e bismuto, sua construção foi cara e demorada, o que lhe rendeu o apelido de “Peixinho Dourado”, uma referência à história russa sobre um peixe mágico. Os reatores inovadores do K-27, embora projetados para serem mais potentes, enfrentaram diversos desafios operacionais.
Primeiro submarino soviético a permanecer submerso por 50 dias consecutivos
O K-27 foi o primeiro submarino soviético a permanecer submerso por 50 dias consecutivos. No entanto, sua história foi marcada por tragédia quando, em 24 de maio de 1968, uma falha no reator levou ao aumento da radiação gama no compartimento do reator, afetando gravemente a tripulação. Após o acidente, o submarino foi levado de volta à base em uma jornada de mais de cinco horas, com todos os 144 tripulantes expostos à radiação. Nove deles morreram devido ao envenenamento radioativo.
Risco do submarino afundado se tornar uma bomba relógio nuclear
Hoje, o K-27 permanece a uma profundidade de 33 metros, no fundo do Mar de Kara, considerado uma “bomba-relógio nuclear”. A inspeção atual visa avaliar os riscos de radiação e a possibilidade de recuperação do submarino, uma tarefa que a Rússia planeja realizar até 2035. O desafio de remover resíduos nucleares da região do Ártico é enorme, pois o K-27, junto com o K-159, contém um nível significativo de radiação, comparável ao desastre de Fukushima.
Tarefa complexa e perigosa para recuperar o gigante afundado e urgência de resolver a questão cresce a cada ano
A recuperação desses submarinos é uma tarefa complexa e perigosa. O K-27 foi afundado de forma a vedar seus reatores com asfalto, mas essa solução foi projetada para durar até 2032. O maior medo é que, se perturbado, o combustível do submarino possa desencadear uma reação nuclear incontrolável, liberando radiação no sensível ecossistema marinho.
Nos últimos anos, a Rússia tem se esforçado para desenvolver um plano viável para recuperar o K-27, mas a guerra na Ucrânia interrompeu o apoio de instituições internacionais, como o Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento (BERD), e também afastou a cooperação com países como os Países Baixos, que ajudaram a resgatar o submarino Kursk em 2001. A urgência de resolver a questão do K-27 cresce a cada ano, e o mundo observa enquanto a Rússia enfrenta um dos maiores desafios ambientais e tecnológicos do Ártico.