A recente declaração de um oficial de alta patente da Força Aérea dos Estados Unidos sobre a imposição de “soft power” sobre o Brasil gerou intenso debate entre militares, cidadãos brasileiros e até estudiosos de relações entre os militares e política. O episódio, revelado pela Revista Sociedade Militar, levanta questões cruciais sobre a soberania nacional e relações diplomáticas entre os dois países.
Os comandantes das Forças Armadas Brasileiras não se manifestaram sobre o assunto. O evento, que ocorreu em setembro, não apareceu – segundo apurado – em nenhum site militar no Brasil.
Música como ferramenta de influência
Em setembro de 2024, durante o concerto de aniversário de 77 anos da Força Aérea Americana, o Tenente-coronel Michael D. Hoerber, diretor de operações da Banda da Força Aérea dos EUA, fez uma declaração surpreendente. Ele afirmou que as performances musicais colaborativas com aliados, como a realizada com a Orquestra Sinfônica da Força Aérea Brasileira, são na verdade uma demonstração de “soft power”.
“Nosso papel é usar a música como uma ferramenta para conectar culturas, fortalecer parcerias internacionais e construir relacionamentos”, disse Hoerber. “Espero que se fizermos nosso trabalho direito, o poder coercitivo dos militares dos EUA não precise ser usado. É uma solução de prevenção estratégica em um nível de segurança nacional.”
Reações divergentes da sociedade
A declaração provocou reações diversas entre os cidadãos brasileiros. Nas redes sociais, muitos expressaram preocupação com a possível influência estrangeira sobre as Forças Armadas nacionais.
Um usuário do Instagram comentou: “Enquanto não aceitarmos que não são só os políticos que sabotam as Forças Armadas, mas os próprios Generais, que trabalham em conluios com forças estrangeiras e empresas estrangeiras, jamais vamos sair da atual situação.”
Outro internauta ressaltou: “É o que dá não ter poder militar de verdade.”
Contexto histórico e geopolítico
Especialistas em relações internacionais apontam que essa estratégia de “soft Power” não é nova. O antropólogo Piero Leirner, em seu perfil no Twitter, lembrou um episódio histórico: “Na última vez que os ianques usaram música como meio de aproximação com sua cultura, Zé Carioca e Pato Donald nos meteram na Segunda Guerra Mundial sob o pretexto de alemães terem torpedeado ‘nossos’ navios mercantes.”
Essa banda “toca junto”https://t.co/IaX8BPsokF pic.twitter.com/cu1QdZiqov
— Piero Leirner (@pierolei) October 21, 2024
Um leitor em comentário no site da Revista Sociedade Militar, ofereceu uma interpretação mais crítica: “Quando o estadunidense diz: ‘Espero que se fizermos nosso trabalho direito, o poder coercitivo dos militares dos EUA não precise ser usado’ na verdade ele está dizendo: ‘Se a nossa capacidade de corromper e subornar não funcionar para a elite brasileira defender os nossos interesses e não os do Brasil, vale a política do Big Stick’.”
Implicações para a soberania nacional
A revelação levanta questões importantes sobre a autonomia das Forças Armadas brasileiras e a influência estrangeira na política nacional. Alguns analistas argumentam que essa abordagem de “soft power” pode comprometer a independência estratégica do Brasil.
Outro leitor na Revista Sociedade Militar comentou: “EUA usam o dólar como armas fazendo sanções econômicas e corrompem governos para explorar suas riquezas petróleo etc assim ficaram ricos.”
O debate sobre a influência dos Estados Unidos no Brasil está longe de ser concluído. Enquanto alguns veem as interações culturais e militares como uma forma positiva de cooperação internacional, outros as interpretam como uma ameaça velada à soberania nacional. O comentário do oficial dos EUA aparentemente revela o que os militares norte-americanos conversam em seus ambientes restritor, que é muito melhor se aproximar de potenciais aliados de maneira branda do que no futuro os ter como inimigos e ter então de se impor com a força das armas.