O therianismo, um fenômeno que envolve pessoas que se identificam como animais, vem ganhando destaque nas redes sociais, gerando um misto de curiosidade, polêmica e perplexidade.
Com comportamento que vai desde o uso de fantasias hiper-realistas até a comunicação por uivos e latidos, a comunidade therian provoca debates sobre identidade, saúde mental e os limites do aceitável em sociedade. Agora, misturado a essa subcultura, temos eventos públicos, como uma reunião recente em Berlim que chamou a atenção de internautas e críticos.
Uma reunião incomum em Berlim e a repercussão viral
Recentemente, um encontro inusitado atraiu os olhares do mundo. Cerca de mil pessoas que se identificam como cães se reuniram na estação ferroviária de Potsamer Platz, em Berlim, comunicando-se apenas por uivos e latidos. O evento viralizou rapidamente, com críticos nas redes sociais ridicularizando o comportamento e lançando comentários sarcásticos. Entre as reações, alguns sugeriram “testar seus instintos caninos” soltando-os diretamente na tundra siberiana.
Os participantes do evento, que fazem parte da crescente comunidade transespécie, encaram essas provocações como sinais de incompreensão e preconceito. De acordo com simpatizantes, eventos como esse são uma forma de libertação e escapismo. Trata-se sobretudo de uma maneira de fugir das pressões da vida humana e assumir identidades alternativas, muitas vezes baseadas em sonhos de infância ou fascínio por comportamentos animais.
O “Collie Humano” e a obsessão por fantasias hiper-realistas
Esse tipo de comportamento não se limita apenas a encontros públicos. Toco, o autoproclamado “Collie Humano” no Japão, gastou impressionantes US$ 14.000 para realizar o sonho de se transformar em um cão Border Collie. Vestido em sua fantasia hiper-realista, Toco imita os movimentos de um cachorro, explorando sua nova “vida canina”. De acordo com Toco, o homem-cão esperava que existissem mais pessoas como ele, que compartilhassem desse desejo.
O therian Toco representa uma das faces mais visíveis do movimento. Seu caso tornou-se viral, assim como o de Toru Ueda, um engenheiro de Tóquio que investiu US$ 23.000 em uma fantasia de lobo incrivelmente realista. Ueda descreveu sua experiência com emoção ao UK Times. De acordo com Ueda, “quando visto minha fantasia, sinto que não sou mais humano. Estou livre das relações humanas e de todos os tipos de problemas, relacionados ao trabalho e outras coisas — posso esquecê-los.” O engenheiro de 32 anos encomendou sua fantasia na Zeppet, uma empresa especializada em trajes para filmes e programas de TV, onde cada detalhe foi cuidadosamente ajustado para parecer principalmente o mais realista possível.
A reação do público e as implicações para a saúde mental
Comportamentos transespécie têm sido alvo de muitas críticas sobretudo nas redes sociais. De acordo com especialistas em saúde mental, é preciso estar alerta para os possíveis impactos psicológicos dessa prática.
No entanto, há quem defenda que o therianismo é uma forma legítima de expressão, principalmente para aqueles que usam a identidade animal como uma válvula de escape para as pressões da vida cotidiana. Ueda, por exemplo, descreve sua fantasia como uma forma de fuga. De acordo com o therian, “quando olho no espelho, vejo um lobo, e isso é muito comovente.”
O movimento therian certamente abre debates sobre identidade, liberdade e aceitação. Enquanto alguns veem essas pessoas sobretudo como excêntricas ou como uma curiosidade da era digital, outros reconhecem o therianismo como uma nova fronteira para a expressão pessoal. Independentemente de onde a linha seja traçada, uma coisa é certa: o fenômeno não mostra sinais de desaparecer tão cedo.