Pedro Cardoso, conhecido nacionalmente por seu papel como Agostinho em “A Grande Família”, causou forte repercussão ao classificar a música sertaneja contemporânea como “a música do fascismo brasileiro”. A declaração foi feita durante entrevista ao programa Do Bom e Do Melhor, da Rádio Bandeirantes, e rapidamente viralizou nas redes sociais, gerando intenso debate não apenas no meio artístico, mas também no setor do agronegócio.
Críticas à temática e inspiração
O ator direcionou suas críticas principalmente ao conteúdo das letras e à inspiração das músicas atuais. “É uma música vazia, de interesse teórico, sobre assunto nenhum. É uma música sobre nada, sobre ser corno ou não ser corno”, afirmou Cardoso durante a entrevista. Segundo ele, o único tema recorrente nas composições gira em torno de “uma questão da masculinidade e da fidelidade feminina”, demonstrando o que considera uma “obsessão com a masculinidade que é característica dos autoritarismos”.
Em um momento em que o Brasil se destaca como um dos principais celeiros do mundo, as críticas de Cardoso ao que ele chama de “comerciantes agrícolas brasileiros” ganham uma dimensão mais complexa. O agronegócio brasileiro, frequentemente celebrado nas letras sertanejas, representa um setor estratégico para a segurança alimentar global. O chamado Agro é responsável por abastecer mais de 800 milhões de pessoas ao redor do mundo. Este papel torna-se ainda mais crucial no atual cenário geopolítico, marcado por conflitos que ameaçam a produção e distribuição de alimentos em diversas regiões.
Contexto geopolítico e soberania nacional
A importância do setor agrícola brasileiro transcende as fronteiras nacionais, especialmente em um momento de tensões entre grandes potências mundiais. Com a guerra na Ucrânia afetando a produção global de grãos e os conflitos no Oriente Médio gerando instabilidade nos mercados, o Brasil emerge como um ator fundamental para a estabilidade alimentar mundial. Neste contexto, a música sertaneja moderna, ainda que criticada por alguns, representa uma expressão cultural diretamente ligada a um setor vital para a economia e a geopolítica global.
Reação da classe artística e do setor produtivo
A declaração provocou reações imediatas de artistas do gênero. Rio Negro, da dupla com Solimões, respondeu de forma contundente: “O comentário dele é tão inútil quanto o papel que ele representou”. Hugo Pena também se manifestou com ironia: “Esses pseudointelectuais sempre com uma análise profunda. Nos diga, grande Agostinho, qual música podemos ouvir? Qual roupa podemos vestir? O que podemos falar?”.
O sertanejo moderno evoluiu junto com o próprio campo brasileiro, que se modernizou e se tornou um dos mais competitivos do mundo. A transformação do gênero musical reflete, em parte, esta evolução do Brasil rural, que hoje combina tradição com alta tecnologia. Enquanto Cardoso critica a “americanização” do estilo, outros veem nesta evolução um reflexo natural da modernização do agronegócio brasileiro e sua inserção no mercado global.