As autoridades russas anunciaram na última terça-feira (9) o bloqueio do Discord, uma popular plataforma de comunicação amplamente utilizada por tropas russas e ucranianas para coordenar operações com drones na guerra em curso na Ucrânia. A decisão foi justificada pela preocupação com o uso da ferramenta para fins ilegais, como a venda de drogas e o compartilhamento de conteúdos extremistas.
O órgão regulador russo, Roskomnadzor, declarou que o bloqueio foi motivado pela recusa do Discord em remover mais de 900 conteúdos considerados ilegais. Entre os problemas citados estavam a veiculação de material relacionado ao abuso infantil e a falha da plataforma em controlar o que é postado por seus usuários. A empresa, com sede nos Estados Unidos, foi multada anteriormente em US$ 100 mil por não ter atendido a essas solicitações.
Apesar dessas alegações, alguns críticos dentro da Rússia expressaram preocupações de que a decisão de banir o Discord poderia prejudicar diretamente as operações militares do país. Tropas russas têm utilizado a plataforma para transmitir vídeos de drones e coordenar ataques no front ucraniano, aproveitando a qualidade superior de transmissão que o Discord oferece.
A medida foi criticada por figuras públicas ligadas ao governo russo, como Ekaterina Mizulina, chefe da Liga de Internet Segura, que destacou a importância do Discord nas operações militares russas. Mizulina afirmou em seu canal no Telegram que a plataforma vinha sendo usada de maneira “muito ativa” na “operação militar especial”, a expressão utilizada pelo governo russo para se referir à guerra na Ucrânia.
Anton Gorelkin, vice-presidente do comitê de política de informação da Duma Estatal, criticou a postura da plataforma por supostamente ignorar as leis russas, mas alertou que o bloqueio poderia causar sérios prejuízos, dada sua ampla utilização entre os russos. Estudantes e professores online também estão entre os usuários mais afetados pela decisão de Moscou.
A medida provocou reações negativas entre especialistas e blogueiros militares. Alguns afirmaram que o bloqueio já estaria impactando operações nas linhas de frente da guerra na Ucrânia. O blogueiro Troika relatou que várias unidades militares tiveram suas transmissões de vídeo de drones interrompidas com a queda do serviço, descrevendo o retrocesso como um retorno ao nível operacional de março de 2022.
Roman Alekhine, analista militar, criticou o bloqueio do Discord como uma decisão civil que poderia agravar as perdas militares da Rússia, enquanto outros blogueiros sugeriram que a ação poderia comprometer as estratégias de campo das tropas russas. Muitos desses críticos apontam a necessidade de que as forças armadas russas adotem um substituto eficiente para a plataforma.
A proibição do Discord ocorre em meio a uma série de medidas de Moscou para bloquear o acesso a plataformas e sites ocidentais desde o início do conflito. Serviços como Facebook, X (antigo Twitter), YouTube e diversos sites de notícias europeus foram restringidos ou bloqueados na Rússia.
Enquanto isso, redes sociais nacionais como a VKontakte, a maior do país, registraram um aumento significativo em sua base de usuários e receitas. De acordo com relatórios da VK, a plataforma teve um aumento de 19,4% no número de usuários diários entre o primeiro trimestre de 2022 e o último trimestre de 2023, impulsionada pelo vácuo deixado pelas redes ocidentais.
O bloqueio do Discord levanta dúvidas sobre a capacidade das tropas russas de manter suas operações tecnológicas sem interrupções, especialmente com a crescente dependência do uso de drones em campo. A decisão, no entanto, continua sendo um ponto de controvérsia, com autoridades e usuários ainda buscando soluções alternativas para evitar maiores danos às operações militares.
Com informações de: Businessinsider