Após anos de intensa pesquisa, a instalação DIII-D da General Atomics em San Diego, nos Estados Unidos, celebrou na última quinta-feira um marco significativo: a realização do 200.000º “disparo” de plasma. Esse feito é uma conquista para a comunidade científica, que busca transformar a fusão nuclear — um processo livre de emissões de carbono e sem risco de explosões — em uma alternativa viável de energia limpa. Richard Buttery, diretor do centro DIII-D, destacou a importância do número alcançado, ressaltando que cada experimento representa uma dúvida esclarecida e um passo dado em direção ao futuro energético.
A DIII-D, que opera sob a supervisão do Departamento de Energia dos EUA, é um dos maiores laboratórios de fusão do país. Localizada em um campus da General Atomics, a instalação funciona como uma plataforma de pesquisa aberta para cientistas, engenheiros e especialistas de diversas instituições. A infraestrutura foi recentemente modernizada, com novos recursos que permitem explorar questões mais complexas e avançadas, indicando um avanço contínuo na inovação do setor.
No centro do DIII-D, um dispositivo chamado tokamak — uma câmara a vácuo em forma de rosquinha — abriga o núcleo dos experimentos de fusão. Essa estrutura é envolta por poderosos eletroímãs que mantêm o plasma extremamente quente confinado, permitindo que átomos de hidrogênio colidam e se fundam, formando hélio e liberando uma quantidade imensa de energia. Trata-se de uma tentativa de recriar na Terra o mesmo processo que ocorre no interior do Sol.
Ao contrário da fissão nuclear, que separa átomos para gerar energia e resulta em resíduos radioativos de longa duração, a fusão funde os átomos, oferecendo uma alternativa potencialmente mais segura e sustentável. O objetivo é gerar eletricidade em larga escala, sem emitir carbono e sem os perigos dos resíduos nucleares, e esse tem sido o maior desafio da comunidade científica e tecnológica envolvida no projeto.
Ainda que o avanço em direção à fusão nuclear tenha sido lento e desafiador, o crescente apoio financeiro, impulsionado pelo aumento da demanda energética e pela urgência em substituir fontes de combustível fóssil, tem acelerado o ritmo das pesquisas. Nos últimos anos, mais de 100 organizações, incluindo empresas de tecnologia de ponta como a NVIDIA, têm colaborado com o DIII-D, o que reflete o interesse do setor privado na promessa da fusão nuclear.
Globalmente, a corrida para dominar a fusão nuclear também está em andamento. A China, por exemplo, tem investido significativamente em sua própria pesquisa de fusão, destinando cerca de 1,5 bilhão de dólares anuais a um projeto em Xangai. Essa competição global, somada à colaboração entre governos e empresas, tem gerado otimismo entre os especialistas de que a fusão possa, finalmente, sair dos laboratórios.
O Departamento de Energia dos EUA pretende desenvolver, até a década de 2030, uma planta piloto de fusão em parceria com o setor privado. Enquanto a Europa adota uma abordagem mais cautelosa, o DIII-D se compromete a impulsionar o desenvolvimento de tecnologias mais compactas e acessíveis que acelerem a construção de plantas comerciais.
Zabrina Johal, diretora sênior de desenvolvimento estratégico na General Atomics, apontou que novas tecnologias, como inteligência artificial e materiais avançados, têm reduzido as lacunas tecnológicas, trazendo a fusão nuclear para mais perto da realidade. Para ela, um protótipo de planta de fusão deve surgir nos próximos 10 a 15 anos, com aplicações comerciais não muito distantes.
Embora a realização de energia de fusão comercial ainda dependa de desafios consideráveis, o marco dos 200 mil disparos reforça o compromisso da General Atomics e da comunidade científica em tornar essa tecnologia uma realidade. Caso esse esforço se concretize, o mundo poderá contar com uma fonte de energia praticamente inesgotável e sustentável, alinhada aos objetivos globais de preservação ambiental e segurança energética.
Com informações de: sandiegouniontribune