O Parlamento da Ucrânia aprovou um novo projeto legislativo que permite o recrutamento militar de cidadãos estrangeiros, em meio aos problemas de mobilização que as Forças Armadas estão enfrentando após mais de dois anos e meio do início da invasão russa.
A medida contou com o apoio de 278 deputados da Rada Suprema, o órgão unicameral ucraniano, conforme informou o porta-voz parlamentar do partido Voz, Yaroslav Zhelezniak, em sua conta na plataforma de mensagens Telegram.
A norma contempla, entre outras questões, a possibilidade de que cidadãos estrangeiros e apátridas possam assinar contratos com as Forças Armadas, a Guarda Nacional da Ucrânia, assim como com o Serviço Especial de Transporte do Estado, uma unidade militar responsável pelo funcionamento das redes de comunicação.
Além disso, inclui a criação de um centro oficial de recrutamento para pessoas de outros países dentro do território ucraniano, detalha Zhelezniak.
A escassez de efetivos à medida que a guerra avança tem sido um dos principais problemas da Ucrânia e de seu Exército, que iniciou uma campanha para evitar que cidadãos em idade militar deixem o país, até mesmo instando seus aliados a adotarem medidas para obrigar a volta daqueles que partiram.
Medidas de recrutamento forçado e incentivos financeiros
Embora a presença de pessoal estrangeiro tenha sido uma constante desde o início da invasão russa, para resolver a falta de efetivos, o governo também recorreu ao alistamento forçado e à população carcerária, oferecendo redução de penas em troca de serviço militar.
Em abril, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, assinou uma polêmica lei para tentar ajudar Kiev a impulsionar o recrutamento, visando repor as forças enfraquecidas e se defender da contínua agressão russa.
Com a lei de mobilização, espera-se facilitar a identificação de todos os homens elegíveis para o recrutamento no país. Muitos têm evitado o serviço militar obrigatório ao evitar o contato com as autoridades.
A lei também oferece incentivos aos soldados, como bônus em dinheiro ou fundos para a compra de uma casa ou carro, algo que, segundo analistas, a Ucrânia não tem condições financeiras de arcar.
Desafios com a rotação e capacitação de soldados do exército
Desde que a invasão em grande escala começou em fevereiro de 2022, a Rússia capturou quase um quarto da Ucrânia. Superada em número e em armamentos, a Ucrânia precisa urgentemente de mais tropas e munições, especialmente diante do aumento das incertezas quanto ao apoio militar ocidental.
A lei não incluía uma disposição que permitiria a rotação das tropas que completaram 36 meses de combate. Soldados exaustos não têm como tirar um descanso da linha de frente devido à escala e à intensidade da guerra atual.
A Ucrânia já sofre com a falta de soldados capacitados e aptos para o combate, e desmobilizar os que estão no front agora privaria as forças ucranianas de seus combatentes mais experientes.
Em dezembro de 2023, Zelensky disse que o exército ucraniano queria mobilizar até 500.000 soldados adicionais. Desde então, o chefe do exército, Oleksandr Syrskyi, conduziu uma auditoria e afirmou que os soldados poderiam ser rotacionados da retaguarda para a linha de frente. O número de recrutas foi revisado, mas ainda não foi divulgado.