Uma simples caminhada na praia, olhando atentamente para baixo, isso pode revelar o apocalipse que se aproxima. Basta andar pelas areias de todo o mundo, e ter certeza que um problema invisível está crescendo sob nossos pés: o acúmulo de plásticos nos oceanos, e ninguém faz nada. Com base em novas pesquisas e descobertas, incrivelmente os resíduos plásticos das praias do Nordeste do Brasil têm origens distantes, como a África.
Muito mais que dados alarmantes, a poluição é bem mais complexa do que jogar uma garrafa PET de um barco em alto mar, a poluição nos mares e oceanos não respeita fronteiras e se move por milhares de quilômetros por meio de correntes oceânicas – os impactos são desastrosos para a meio ambiente.
O crescimento do lixo marinho nos últimos 20 anos
Nos últimos 20 anos, o lixo marinho tem crescido a um ritmo alarmante. De acordo com estudos, aproximadamente 385 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente, e uma parte significativa desse número acaba nos oceanos.
Estima-se que entre 8 e 12,7 milhões de toneladas de plástico são lançadas nos mares todos os anos, com previsões indicando que esses números podem triplicar até 2040. No Brasil, por exemplo, o descarte de resíduos plásticos entre 2010 a 2020 alcançou aproximadamente 940 mil toneladas, destacando um problema sério de gestão de resíduos e consumo desenfreado.
Quem fiscaliza diz o quê?
O Tribunal de Contas da União (TCU), órgão superior de fiscalização no Brasil, tem dados alarmantes sobre os lixões no Brasil: segundo o documento de lançamento do Programa Lixão Zero, iniciativa do Governo Federal voltada para auxiliar os estados e municípios na gestão dos resíduos sólidos urbanos, existem no país cerca de 3.200 lixões e aterros controlados que não dispõem das medidas necessárias para proteção contra danos e degradações.
Em um dos principais estados do Brasil, o órgão estadual fiscalizador máximo, Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE/SC), revelou em sua página de Internet que que 89% dos municípios pesquisados afirmam que seus Planos de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos não estão adequados à Lei 14.026/2020, que estabelece o Marco Legal do Saneamento Básico no país.
A origem do lixo: uma perspectiva global
A pesquisa recente coordenada pelo Projeto Detetive do Plástico, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará, revelou que 78,5% da poluição plástica nas praias do Ceará provém da África, com 90% desse total originado do Congo.
Isso é possível graças às correntes marítimas que transportam esses resíduos ao longo de mais de 5.600 quilômetros. Essa descoberta sublinha o fato de que a poluição não é apenas um problema local, mas uma questão global que requer colaboração internacional para ser eficazmente abordada.
Impactos ambientais e na saúde
Os plásticos não apenas poluem o ambiente, mas também representam riscos significativos à saúde pública. Resíduos de diferentes origens podem transportar patógenos desconhecidos, aumentando o risco de doenças. Isso significa trazer doenças contidas num país para outro que ainda não existe, correndo o risco de todas as mutações decorrentes.
Além disso, microplásticos, que resultam da degradação de plásticos maiores, estão entrando na cadeia alimentar, com potenciais impactos nocivos para a vida marinha e, eventualmente, para os seres humanos que consomem frutos do mar contaminados.
Soluções e iniciativas globais
Diante dessa crise, a ONU está mediando um tratado global entre 175 países para combater a poluição plástica. Este esforço inclui a proibição de plásticos descartáveis e a promoção da reciclagem em larga escala. Iniciativas como estas são necessárias para reduzir a quantidade de plástico que chega aos oceanos.
Além disso, o desenvolvimento de tecnologias de biodegradação de plásticos e a educação ambiental são passos essenciais para mitigar este problema.
Um chamado à ação
A situação atual exige ação imediata e coordenada. Como indivíduos, é fundamental reduzir o uso de plásticos descartáveis, reciclar sempre que possível e apoiar políticas que visem a sustentabilidade.
A mudança começa com a conscientização e a educação, preparando as futuras gerações para cuidar melhor de nosso planeta. Somente com esforços coletivos poderemos reverter o dano já causado e proteger nossos oceanos para o futuro.