Nesta semana, a concessionária Light, junto com a companhia Águas do Rio, realizaram cortes de energia e água na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com isso, o funcionamento da instituição e do acervo do Museu Nacional está seriamente em risco.
O fornecimento de energia elétrica foi suspenso em 15 instalações da UFRJ, incluindo o Museu Nacional. O corte se deu mesmo após sucessivas tentativas de acordo e reuniões entre a universidade e a Light desde junho de 2024.
De acordo com a concessionária, a interrupção ocorreu devido à inadimplência da instituição, que acumula uma dívida de R$ 31,8 milhões em faturas vencidas entre março e novembro deste ano. Além disso, também vigoram parcelas pendentes de um acordo de R$ 21,3 milhões firmado em 2020, dos quais apenas R$ 13 milhões foram pagos.
A Light, no entanto, informou que poupou unidades consideradas essenciais, como as de saúde e segurança, para manter serviços vitais à população.
O que diz a UFRJ
A UFRJ, por sua vez, alega que não se recusou a honrar a dívida. No entanto, declara enfrenta limitações orçamentárias que dificultam o pagamento dos valores devidos. De acordo com um comunicado, a reitoria destacou que solicitou suplementação orçamentária ao Ministério da Educação (MEC). Além disso, ainda segundo o comunicado, a UFRJ obteve uma antecipação de tutela para evitar o corte de energia entre julho e novembro de 2024. No entanto, a Light recorreu ao Judiciário, que derrubou essa proteção judicial, resultando no corte efetivo.
Os cortes de energia também afetaram diretamente o Museu Nacional, que está em processo de reconstrução e tem previsão de reabertura para 2026. Com três áreas de fornecimento de energia, o museu sofreu interrupções no Palácio de São Cristóvão e em prédios provisórios que abrigam parte do acervo, incluindo a coleção de invertebrados conservada em álcool. Sem a refrigeração adequada, esse acervo corre risco de combustão, o que gerou preocupação na direção do museu.
De acordo com Alexander Kellner, diretor do Museu, “estamos muito preocupados com essa falta de energia nas instalações. Precisamos ressaltar que existe o risco real de incêndio e de perda de acervo. Quem vai se responsabilizar se isso acontecer?”.
Essa ameaça remete ao trágico incêndio de 2018, que destruiu cerca de 90% do acervo do museu, incluindo peças históricas e científicas de valor inestimável. A falta de orçamento adequado e de recursos sobretudo para manutenção básica é um problema recorrente da instituição.
Cortes no orçamento da UFRJ
A situação financeira da UFRJ reflete anos de cortes orçamentários. De acordo com o reitor Roberto Medronho, o orçamento da universidade vem sofrendo quedas sucessivas. Em 2012, a UFRJ recebia o equivalente a R$ 784 milhões, em valores corrigidos pela inflação. Em 2024, o montante disponibilizado foi de apenas R$ 392 milhões.
O reitor pediu ajuda da sociedade para preservar a UFRJ, destacando que a instituição possui uma dívida total de R$ 192 milhões com diversas concessionárias e prestadores de serviços. Esse valor inclui as duas responsáveis pelos cortes de energia e água, a Light e a Águas do Rio.