Até o final de dezembro, a China irá disparar uma nova e poderosa fonte de luz de raios X que promete revelar a estrutura, em escala atômica, de proteínas e materiais. A expectativa dos operadores é que os raios comecem a fluir para linhas de luz experimentais na High Energy Photon Source (HEPS) perto de Pequim, local que deverá se tornar um dos poucos síncrotrons de “quarta geração” do mundo.
“É como ganhar um novo telescópio importante. Você pode ver coisas que não eram observáveis antes”, disse Mingda Li, que estuda as propriedades quânticas de materiais no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e preside o comitê executivo de usuários do Advanced Photon Source (APS), um síncrotron do Departamento de Energia dos EUA no Argonne National Laboratory. “Este é um momento muito emocionante para a comunidade síncrotron.”
A luz síncrotron é um tipo de radiação eletromagnética extremamente brilhante que se estende por um amplo espectro, ou seja, ela é composta por diversos tipos de luz, desde o infravermelho, passando pela luz visível, pela radiação ultravioleta até chegar nos raios X.
Qual a importância disso?
Com esse avanço prometido pela ciência chinesa será possível, por exemplo, que os cientistas estudem máquinas celulares, como o ribossomo de montagem de proteínas, além de obter imagens de células inteiras e vírus. “Seremos capazes de ver as máquinas de proteínas em seu ambiente natural, em alta resolução”, disse Dong Yuhui, vice-diretor do Instituto de Física de Altas Energias (IHEP) da Academia Chinesa de Ciências, que operará o HEPS. O grande desafio, diz Dong, será gerenciar “os enormes dados” que tais experimentos geram.
O que é o HEPS?
O HEPS acelera elétrons até altas energias e os curva em torno de uma trilha circular para que as partículas emitam radiação síncrotron — principalmente raios X “duros” de comprimento de onda curto. Os raios X intensos, semelhantes a laser, são desviados para 14 linhas de luz que os cientistas usarão para criar imagens de materiais e estruturas biológicas em escalas atômicas a nanométricas e tirar instantâneos de reações químicas em intervalos de tempo de nanossegundos.
O IHEP propôs o HEPS pela primeira vez em 2008 e 10 anos depois começou a construir o complexo de 4,76 bilhões de renminbi (US$ 657 milhões). A equipe do IHEP agora está esperando a revisão final — e uma licença operacional — do financiador do HEPS, a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China.
O HEPS é o primeiro síncrotron de quarta geração na Ásia. O próximo pode ser o síncrotron SPring-8, uma instalação que o Japão começará a atualizar no ano que vem, com planos de transformá-lo no SPring-8-II até 2029. O objetivo é aumentar o brilho do SPring-8 mais de 100 vezes, tornando-o o síncrotron mais poderoso do mundo. O HEPS, por sua vez, não vai se acomodar. O IHEP planeja adicionar mais 30 a 32 linhas de luz nos próximos 5 anos, diz Dong.
Com informações da Revista Science