Em 2024, a vitória de Donald Trump pela corrida à presidência dos Estados Unidos foi uma eleição marcada pela polarização intensa e uma forte mobilização de eleitores. A vitória foi atribuída à sua capacidade de galvanizar a base republicana, focando em temas como economia, imigração e segurança nacional, além de prometer restaurar o “American First” (Estados Unidos em Primeiro Lugar).
Durante a campanha, Trump destacou suas realizações anteriores, prometendo continuar sua agenda de cortes de impostos e desregulamentação, ao mesmo tempo em que criticava o governo Biden por questões como inflação e políticas de imigração. A estratégia de comunicação direta através das redes sociais e eventos massivos ajudou a manter seu apoio entre os eleitores.
No dia da eleição, Trump superou as expectativas em estados-chave, conquistando estados que haviam votado em Biden em 2020, como Wisconsin e Pennsylvania. A vitória foi celebrada como um retorno triunfante à política, marcando um novo capítulo na história do Partido Republicano e definindo o cenário político dos EUA para os próximos anos.
REAÇÕES À VITÓRIA DE DONALD TRUMP
Em suas contas no X (-Twitter), alguns dignitários ao redor do mundo manifestaram suas felicitações ao republicano, que, aos 78 anos, é o político mais velho a se reeleger presidente dos EUA.
O Primeiro-ministro de Israel, Benjamin “Bibi” Netanyahu foi grandiloquente e postou na rede social que a vitória de Donald Trump foi “o maior retorno da história!”
Viktor Mihály Orbán, político húngaro, que atualmente é o primeiro-ministro da Hungria desde 2010, publicou que foi “uma vitória muito necessária para o mundo!” E, com uma tirada cômica, com direito a emoji, postou também: “a longa espera acabou. O presidente Trump está de volta!”
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, aproveitou a oportunidade para refrescar a memória do político americano: “lembro-me do nosso grande encontro com o presidente Trump em setembro, quando discutimos em detalhes a parceria estratégica Ucrânia-EUA, o plano de vitória e as maneiras de pôr fim à agressão russa contra a Ucrânia”
Por outro lado, o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov, foi mais austero ao comentar sobre a vitória de Donald Trump: “não estou ciente dos planos do presidente de parabenizar Trump pela eleição.”
Por aqui, o presidente Lula, também pelo X, parabenizou o vencedor: “meus parabéns ao presidente Donald Trump pela vitória eleitoral e retorno à presidência dos Estados Unidos. A democracia é a voz do povo e ela deve ser sempre respeitada. O mundo precisa de diálogo e trabalho conjunto para termos mais paz, desenvolvimento e prosperidade. Desejo sorte e sucesso ao novo governo.”
COMO A CHINA ESTÁ SE PREPARA PARA MAIS QUATRO ANOS DE TRUMP
Fareed Zakaria é um conhecido escritor e jornalista indiano-norte-americano especializado em relações políticas internacionais. É autor de livros como “Era das revoluções: Progresso e reação de 1600 até o presente“.
Dois dias antes da vitória de Donald Trump na eleição de 2024, Zakaria entrevistou a jornalista Lingling Wei. Wei é a correspondente chefe da China para o The Wall Street Journal e autora do boletim informativo WSJ China. Ela cobre a economia política da China, com foco na intersecção entre negócios e política. Nascida e criada na China, ela tem mestrado em jornalismo pela N.Y.U e é co-autora do livro “Superpower Showdown.”
Abaixo segue uma transcrição textual que fizemos da entrevista. A conversa dura 5 minutos e pode ser conferida no perfil @FareedZakaria.
Lingling Wei, principal correspondente da China no Wall Street Journal, oferece uma visão sobre como a liderança chinesa está abordando essa situação. Em uma conversa com Fareed Zakaria, Lingling destaca que, nos bastidores, a China está fazendo um planejamento de cenários e expressou suas expectativas em relação ao próximo presidente dos EUA.
O que a China realmente deseja é previsibilidade e estabilidade, além de um desejo do novo presidente de suavizar a abordagem dura que tem caracterizado as relações sino-americanas.
PONTO DE PREOCUPAÇÃO DA LIDERANÇA CHINESA
Quando se trata de Donald Trump, a liderança chinesa o vê como uma “quantidade” conhecida, já que eles lidaram com ele durante a guerra comercial de sua primeira administração. Lingling menciona que os funcionários chineses frequentemente ficaram surpresos com as táticas de pressão do governo Trump e, em certa medida, estavam exaustos com as tarifas e outras medidas que visavam forçar concessões de Pequim.
Por outro lado, Kamala Harris é considerada uma incógnita. Embora a falta de experiência dela em relações exteriores cause alguma preocupação, há uma crença em Pequim de que ela herdaria a abordagem de Biden em relação à China — uma postura que é dura, mas mais direcionada e limitada, ao contrário das táticas amplas de Trump.
A possibilidade de Trump reintroduzir tarifas elevadas, como uma ameaça de 60% sobre produtos chineses, é um ponto de grande preocupação para a liderança chinesa, especialmente em um momento em que a economia da China enfrenta dificuldades. Lingling explica que a economia chinesa está lutando sob a pressão de uma crise imobiliária e um alto índice de desemprego entre os jovens.
Uma nova guerra comercial sob uma administração Trump poderia ser devastadora, e, com base na experiência anterior, a China estaria pronta para retaliar, o que poderia desencadear um ciclo de retaliação.
XI, PUTIN E O NIXON REVERSO
Além disso, Lingling menciona que uma das preocupações de Xi Jinping em relação a uma possível vitória de Donald Trump é a relação deste com Vladimir Putin. Durante a primeira administração de Trump, ele tentou se aproximar da Rússia, o que gerou apreensão em Pequim. A preocupação é que, se Trump for reeleito, ele possa buscar novamente uma aliança com Putin, prejudicando assim a relação entre China e Rússia.
Para Xi, Putin é um aliado crucial no enfrentamento com o Ocidente, e a pior situação seria um “Nixon reverso”, onde Trump se alinha com a Rússia contra a China, semelhante à estratégia de Nixon durante a Guerra Fria.
Portanto, enquanto a China oficialmente se mantém neutra, suas preferências e preocupações em relação aos candidatos à presidência dos EUA são palpáveis e revelam um planejamento cuidadoso para o futuro das relações internacionais.