A Coreia do Norte estaria prestes a formalizar sua participação na guerra da Ucrânia, reconhecendo oficialmente o envio de tropas para apoiar a Rússia, segundo informações do jornal sul-coreano The Korea Herald. A medida é uma possibilidade crescente diante de dificuldades internas enfrentadas pelo regime de Kim Jong-un para ocultar os movimentos militares de sua população.
Fontes do Ministério da Unificação em Seul relataram que sinais de descontentamento têm surgido dentro da Coreia do Norte, com rumores e relatos de famílias em lágrimas circulando, apesar dos esforços do governo para manter sigilo. A situação seria agravada pelo aumento de vítimas no campo de batalha e o fardo das constantes rotações de soldados enviados à Rússia.
Apoio militar e estratégico
Conforme noticiado pela Revista Sociedade Militar, a Coreia do Norte teria enviado até 10 mil soldados para reforçar os esforços militares russos. Em troca, a Rússia estaria fornecendo alimentos e suprimentos agrícolas para aliviar a crise econômica de Pyongyang. Além disso, mais de 13 mil contêineres com munições, como granadas de 122 mm e 152 mm, teriam sido enviados pela Coreia do Norte, suprindo as linhas defensivas da Rússia no leste ucraniano.
Kim Jong-un e Vladimir Putin fortaleceram essa parceria ao assinar, em junho de 2024, um tratado estratégico que compromete ambas as nações com assistência militar mútua. O acordo, ratificado neste mês, prevê trocas de apoio em caso de ameaças externas, consolidando a aliança entre os dois países.
Desafios internos e benefícios estratégicos
Autoridades sul-coreanas afirmam que Pyongyang pode optar pela formalização do envio de tropas para evitar rumores e consolidar ganhos estratégicos. “A Coreia do Norte calcula que ser reconhecida como participante oficial na guerra pode trazer vantagens diplomáticas e de segurança, além de fortalecer sua aliança com a Rússia no longo prazo”, destacou uma fonte do Ministério da Unificação ao The Korea Herald.
Entre os possíveis benefícios, o regime norte-coreano vislumbra o acesso a tecnologias militares avançadas, experiência em combate e um fortalecimento econômico bilateral que contorna sanções da ONU.
Conferências militares como alerta
Recentes movimentos internos na Coreia do Norte também indicam o peso da guerra para o regime. Em novembro, a 4ª Conferência de Comandantes de Batalhão e Instrutores Políticos foi realizada com o objetivo de reforçar a unidade militar e conter potenciais distúrbios nas forças armadas. Em discurso, Kim Jong-un enfatizou a lealdade ao regime e retratou a guerra na Ucrânia como uma intervenção militar global liderada pelos EUA e aliados.
Conferências desse tipo, segundo o Ministério da Unificação, foram convocadas em momentos de crise no passado, como após a Guerra da Coreia, antes do primeiro teste nuclear do país e durante a consolidação de poder de Kim Jong-un.
Sanções ignoradas e um pacto perigoso
A parceria entre Rússia e Coreia do Norte não está livre de controvérsias. Segundo informado pela Revista Sociedade Militar, Moscou tem enviado mais de 1 milhão de barris de petróleo por ano a Pyongyang, violando sanções da ONU que limitam essas transferências a 500 mil barris anuais. A ação fortalece a máquina militar norte-coreana e alimenta os esforços russos na Ucrânia.
Enquanto tenta equilibrar seus desafios internos e vantagens externas, o regime de Kim Jong-un avança em uma rota que pode mudar o cenário geopolítico, transformando a Coreia do Norte em uma participante oficial do conflito no Leste Europeu.