A Austrália anunciou o cancelamento de um contrato de US$ 7 bilhões com a gigante de defesa dos Estados Unidos, Lockheed Martin, para o desenvolvimento de um avançado sistema de comunicação via satélite militar. A decisão foi confirmada pelo Departamento de Defesa do país, que agora planeja redirecionar seus investimentos para um sistema de satélites em múltiplas órbitas, buscando maior flexibilidade operacional e resiliência.
O contrato, originalmente concedido à Lockheed Martin em abril de 2023, previa uma rede robusta de três a cinco satélites. O sistema tinha como objetivo proteger as comunicações militares da Austrália contra ameaças cibernéticas e de guerra eletrônica. No entanto, a decisão do governo australiano, anunciada em 4 de novembro, reflete uma mudança de foco para uma tecnologia de múltiplas órbitas, considerada mais moderna e adequada às ameaças emergentes.
Segundo o Departamento de Defesa, o projeto denominado JP9102, embora promissor, já não estava em alinhamento com as prioridades estratégicas da Austrália. O comunicado reforça que o avanço rápido das tecnologias espaciais e o surgimento de novas ameaças tornam o modelo de satélites de órbita geoestacionária insuficiente para enfrentar os desafios contemporâneos de segurança.
O primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, comentou a decisão, afirmando que, embora o orçamento de defesa do país esteja em expansão, a estratégia de aquisição de tecnologias seguirá priorizada para garantir investimentos com retorno mais amplo. Paralelamente, o Departamento de Defesa confirmou que pretende destinar entre A$ 9 e A$ 12 bilhões para desenvolver uma capacidade espacial mais abrangente, garantindo a segurança e independência no espaço.
A decisão, no entanto, não foi recebida sem críticas. Dr. Malcolm Davis, analista sênior do Instituto Australiano de Política Estratégica, classificou o cancelamento como um “retrocesso significativo” para a presença australiana no setor espacial. Davis destacou que essa medida ocorre após o término de outro projeto espacial no ano passado, o que, em sua visão, prejudica os avanços da Austrália rumo a uma infraestrutura de comunicação soberana.
O sistema JP9102, cancelado pela administração atual, visava construir uma rede ultra-segura para as comunicações das Forças de Defesa Australianas. Essa rede permitiria maior proteção contra ameaças de guerra cibernética e eletrônica, especialmente na área estratégica da região Indo-Pacífico. No entanto, o governo reafirmou que os sistemas de comunicação atuais atendem às necessidades imediatas de operação, permitindo a mudança de foco para tecnologias mais avançadas.
O cancelamento também gerou reação da oposição, com o Ministro da Defesa Sombra, Andrew Hastie, expressando sua insatisfação com o término precoce do projeto, apenas 18 meses após sua criação. Hastie acusou o governo de sacrificar a capacidade estratégica da Austrália em prol de cortes orçamentários, afirmando que a decisão enfraquece a capacidade de defesa soberana do país.
Fontes da indústria, por outro lado, apontam que a decisão pode ter sido pragmática, dado o alto custo do projeto. Algumas sugestões indicam a possibilidade de integrar ativos espaciais australianos com satélites já operados por empresas americanas, o que poderia viabilizar uma solução mais econômica e ainda eficaz.
Enquanto as tensões na região do Indo-Pacífico aumentam e as ameaças cibernéticas se tornam mais complexas, o cancelamento do JP9102 reflete a difícil escolha entre a busca por comunicações militares seguras e a necessidade de equilibrar o orçamento.
Com informações de: Eurasiantimes