O governo brasileiro não parece mais disposto a ignorar as acusações venezuelanas. Nesta sexta-feira, 1º de novembro, o Ministério das Relações Exteriores divulgou uma nota à imprensa afirmando que “o governo brasileiro constata com surpresa o tom ofensivo adotado por manifestações de autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e aos seus símbolos nacionais”.
Recentemente, a Polícia Nacional Bolivariana postou em sua rede social oficial uma montagem com imagem de Lula com o rosto borrado e bandeira brasileira ao fundo estampada com a frase “El que que se meta con Venezuela se seca”. Em tradução livre, seria algo como “Quem se mete com a Venezuela se ferra”. A postagem ficou no ar até esta sexta-feira e foi apagada justamente após a nota oficial do Itamaraty.
A nota foi divulgada 2 dias após a Venezuela convocar seu embaixador no Brasil para consultas. O gesto foi visto como uma forma de repúdio a declarações feitas pelo embaixador Celso Amorim.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores venezuelano, Amorim “comportando-se mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano, tem se dedicado impertinentemente a emitir juízos de valor sobre processos que só dizem respeito aos venezuelanos”.
A declaração da Venezuela parece ter relação com as eleições, uma vez que até hoje o Brasil não reconheceu a vitória de Maduro e segue cobrando os dados eleitorais por mesa de votação.
Na nota, o Itamarty disse que “o interesse do governo brasileiro sobre o processo eleitoral venezuelano decorre, entre outros fatores, da condição de testemunha dos Acordos de Barbados, para o qual foi convidado, assim como para o acompanhamento do pleito de 28 de julho” e conclui afirmando que “o governo brasileiro segue convicto de que parcerias devem ser baseadas no diálogo franco, no respeito às diferenças e no entendimento mútuo”.
Publicamente a Venezuela, incluindo o próprio Maduro, acusa o Brasil de ter vetado a entrada da Venezuela nos Brics. Atualmente o bloco conta com Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes.
Segundo o secretário de Ásia e Pacífico do Ministério de Relações Exteriores (MRE), embaixador Eduardo Paes Saboia, entre os critérios estão a defesa da reforma da ONU, a não aceitação de sanções econômicas unilaterais, além de se ter relações amigáveis com todos os países membros.
À Agência Brasil, a coordenadora do grupo de pesquisa sobre Brics da PUC do Rio de Janeiro, professora Maria Elena Rodríguez, avaliou que a posição do Brasil foi coerente já que as relações entre os 2 países estão estremecidas.
“Não temos relação amigável com a Venezuela neste momento. Não temos uma relação amigável com a Nicarágua, que é outro país que havia manifestado interesse em entrar no Brics. Esse é um ponto fundamental. Você não pode ter no bloco dois países com os quais você não tem uma boa relação”.