Pela primeira vez, a Ucrânia utilizou mísseis de longo alcance fornecidos pelos Estados Unidos para atacar diretamente o território russo. A mudança de postura do governo de Joe Biden rompe com a política anterior de restringir o uso do sistema Atacms a alvos em territórios ucranianos ocupados, marcando um momento decisivo no conflito.
Os ataques ocorreram na região de Bryansk, um dia após os Estados Unidos darem autorização oficial para o uso dos mísseis. A ação teria danificado uma instalação militar russa, de acordo com informações do Ministério da Defesa de Moscou. Apesar disso, o impacto estratégico do ataque ainda está sendo avaliado por especialistas.
O sistema de mísseis Atacms, fabricado pela Lockheed Martin, tem alcance de até 300 km e pode atingir alvos com precisão, tornando-o uma arma crucial para operações de longo alcance. As versões disponíveis permitem o uso de ogivas de alto impacto ou cluster, ambas letais contra concentrações de tropas e infraestruturas estratégicas.
Autoridades ucranianas argumentam que as restrições anteriores dos EUA limitavam sua capacidade de se defender adequadamente, comparando a situação a “lutar com uma mão amarrada”. A decisão dos EUA ocorre em meio a relatos de apoio militar da Coreia do Norte às forças russas na região de Kursk, onde combates intensos têm ocorrido desde agosto.
A mudança de postura americana também reflete preocupações com o futuro incerto do apoio militar à Ucrânia diante do possível retorno de Donald Trump à Casa Branca. Trump prometeu encerrar o conflito rapidamente, mas não revelou detalhes de como pretende fazê-lo, gerando apreensão em Kiev sobre a continuidade da assistência militar.
Enquanto isso, o impacto psicológico do uso dos Atacms já é significativo. Além de forçar a Rússia a reposicionar equipamentos militares para regiões mais distantes da linha de frente, o uso dessa tecnologia reforça a mensagem de apoio militar ocidental à Ucrânia em um momento crítico do conflito.
Por outro lado, a decisão aumenta os riscos de escalada do conflito, com Vladimir Putin advertindo que ataques ao território russo podem ser interpretados como participação direta da Otan na guerra. No entanto, as “linhas vermelhas” estabelecidas por Moscou já foram cruzadas antes, sem consequências diretas.
Com poucos estoques de mísseis Atacms disponíveis para exportação, o impacto militar imediato pode ser limitado, segundo analistas. No entanto, a possibilidade de ataques a alvos estratégicos, como a ponte da Crimeia, poderia alterar significativamente a dinâmica do conflito.
Além disso, a decisão dos EUA pode abrir caminho para que outros países ocidentais, como Reino Unido e França, autorizem o uso de armamentos semelhantes, como o míssil Storm Shadow, também com capacidades de longo alcance.
Embora o uso dos mísseis não deva alterar drasticamente o curso da guerra, ele representa um marco simbólico e estratégico, ampliando as opções da Ucrânia e elevando os custos para a Rússia. Para a comunidade internacional, a situação continua sendo observada com cautela diante do risco de uma escalada ainda maior no conflito.
Com informações de: bbc