Ficou claro que nos últimos dias que o agronegócio brasileiro está no centro de um ataque orquestrado para enfraquecer sua competitividade no cenário global. O caso da vez é a decisão da rede francesa de supermercados Carrefour de interromper a compra de carne bovina de produtores brasileiros para o mercado francês.
Além de o movimento ter sido seguido pelas concorrentes redes Les Mousquetaires e Intermarché, ele vem logo após outra empresa francesa realizar algo parecido, a Danone, que havia decidido não comprar mais soja brasileira alegando que não são produtos sustentáveis.
Estes casos vão de encontro com a retórica da agenda ambiental européia, e mostra claramente a pressão externa que tenta minar um dos pilares brasileiros que é o agronegócio, e é por isso que tem atraído reações tão enérgicas por parte de muitos brasileiros.
Boicote aos produtos nacionais
A crise com o Carrefour começou quando seu CEO Alexandre Bompard afirmou que a rede não venderia mais carne proveniente do Mercosul. Essa decisão foi atribuída a pressões de organizações ambientalistas que culpam o Brasil por problemas globais, como o desmatamento. Essa narrativa, amplamente difundida na mídia europeia, ignora os avanços do Brasil no combate ao desmatamento e na adoção de práticas de sustentabilidade no campo.
No fim de outubro, a Danone também declarou através de seu executivo Jurgen Esser que não compraria mais soja brasileira, tendo ele dito que “nós realmente temos um rastreamento muito completo, então garantimos que levamos apenas ingredientes sustentáveis do nosso lado”.
Uma regulamentação da União Europeia exige que empresas comprovem que suas commodities não são originárias de áreas desmatadas. Empresas como Nestlé e Unilever vêm se adaptando a essa nova legislação ao longo dos últimos anos, já que o descumprimento pode acarretar multas severas, equivalentes a até 20% do faturamento.
O contexto por trás dos ataques
Os boicotes não são um evento isolado. Ocorrem dentro de um cenário mais amplo de ataques ao agronegócio brasileiro, que envolvem ONGs, governos estrangeiros e até setores da mídia global, anos a fio. Essas ações fazem parte de uma agenda que alega defender pautas ambientalistas, embora frequentemente ignora dados e soluções reais.
Como observado por especialistas como o Professor Lorenzo Carrasco, há uma tentativa de associar o agronegócio brasileiro a práticas predatórias, mesmo quando os fatos mostram o contrário. Enquanto o Brasil é líder em práticas agrícolas de baixo carbono, países europeus têm dificuldade em atingir metas de sustentabilidade. Essa hipocrisia torna evidente o caráter protecionista de muitos ataques, mascarados como preocupações legítimas.
Segundo análises recentes, o objetivo final é barrar o avanço do acordo UE-Mercosul, que ameaçaria a agricultura europeia ao abrir o mercado para produtos mais baratos e abundantes do Brasil e de seus vizinhos. A retórica europeia sobre práticas ambientais parece servir de cortina de fumaça para proteger sua própria produção agrícola, que é incapaz de competir com os custos e a escala produtiva do Mercosul.
Os números falam por si
Os números deixam clara a incoerência das críticas ao Brasil. Em termos de preservação ambiental, nenhum país se compara ao Brasil, que mantém impressionantes 66% de seu território coberto por vegetação nativa. A legislação brasileira exige que produtores rurais preservem entre 20% e 80% de suas propriedades, dependendo da localização e bioma.
Enquanto isso, apenas 4,8% da carne bovina exportada pelo Brasil tem como destino a União Europeia. A França, especificamente, é responsável por míseros 0,02% desse volume, comprando apenas 40 toneladas de um total de 1,41 milhão de toneladas exportadas. Mesmo com essa relevância econômica reduzida, a Europa é responsável por muitas das campanhas de desgaste e críticas ao agro brasileiro.
Com estes dados, fica claro que a situação pende muito mais ao lado brasileiro. Enquanto nos negócios diretos os franceses nos beneficiam pouco, é muito lucrativo manter suas empresas no Brasil. É por isso que a resposta brasileira foi tão incisiva contra suas operações locais, afinal, como dito ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, “ora, se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros. Então, que não se forneça carne nem para o mercado desta marca aqui no Brasil”.
A reação brasileira
Em resposta, frigoríficos brasileiros, como a JBS, decidiram suspender o fornecimento de carne para as unidades do Carrefour no Brasil, expondo a hipocrisia da decisão da varejista, já que parte considerável de suas receitas depende do mercado brasileiro. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC) confirmou que 150 lojas foram afetadas, marcando uma resistência do setor produtivo nacional frente às críticas infundadas.
A situação chegou a tal ponto que uma nota de repúdio foi assinada por importantes instituições brasileiras: A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC), Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG), Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sociedade Rural Brasileira (SRB) e até mesmo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP).
Parlamentares como Alceu Moreira, ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, estão pressionando por investigações e medidas contra o Carrefour no Brasil, incluindo a criação de uma comissão externa para investigar condutas que possam ferir interesses nacionais.
Uma questão de soberania
Enquanto o caso em questão é mais relacionado às pressões dos produtores frances ao seu governo, a realidade dessa agenda contra o Brasil é que é uma disputa pela soberania nacional. O agronegócio é uma das principais bases da economia brasileira e um pilar para sua força diplomática no cenário internacional.
Ataques ao setor não apenas afetam a balança comercial, mas também tentam impor uma narrativa que afeta negativamente a imagem do Brasil no Sistema Internacional, e esse é o ponto mais grave dessa questão. Com a vilanização do Brasil no cenário global, seria possível justificar ações diretas contrárias aos interesses brasileiros mais facilmente, de modo que seria colocada em cheque não apenas a soberania brasileira, mas possivelmente a qualidade de vida da população e até a segurança e a integridade nacional.
O Brasil precisa continuar investindo na promoção de informações reais sobre sua produção e no fortalecimento de suas cadeias produtivas, para que não seja refém de retóricas estrangeiras. Ao mesmo tempo, medidas concretas, como boicotes e investigações, demonstram que o país não aceitará passivamente ser alvo de manipulações e pressões injustas, felizmente.