Em depoimento recente à Polícia Federal, o general Carlos Alberto Santos Cruz revelou uma série de conexões entre a família do ex-presidente Jair Bolsonaro e empresários israelenses, responsáveis pelo fornecimento do software de espionagem FirstMile. Esse programa, adquirido pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), teria sido utilizado para monitorar políticos, juízes e jornalistas. Com essas novas informações, o depoimento do general coloca em evidência a atuação da chamada “Abin paralela”.
O foco dos questionamentos da Polícia Federal foi o vereador Carlos Bolsonaro, também conhecido como ‘02’, filho do ex-mandatário. De acordo com o relatório vazado para a mídia conservadora, Carlos teria uma relação próxima com empresários israelenses. A investigação revelou que membros da família Bolsonaro se reuniram com esses empresários antes de Bolsonaro assumir a presidência, com intermediação de Caio Santos Cruz, filho do general e representante da empresa israelense Cognyte no Brasil.
Investigações se intensificam com foco em Caio Santos Cruz e o software espião israelense
Caio Santos Cruz, cujo envolvimento aumentou o foco das investigações, representava a Cognyte, empresa israelense fornecedora do software espião. Esse sistema foi comprado ainda no governo Temer, com um custo de R$ 5,7 milhões.
No ano passado, a Polícia Federal realizou buscas na residência de Caio durante a “Operação Última Milha”, ampliando as investigações sobre possíveis abusos e irregularidades na contratação desse tipo de tecnologia.
General do Exército Santos Cruz revela intenções de Bolsonaro para estrutura de inteligência alternativa
Enquanto isso, o general do Exército Santos Cruz foi questionado sobre seu conhecimento sobre uma possível Abin paralela, idealizada por Bolsonaro. Segundo ele, o ex-presidente demonstrava intenção de criar uma estrutura alternativa de inteligência.
Quando procurado pela imprensa do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo, nesta sexta-feira, para esclarecer o caso, Carlos Bolsonaro e os Santos Cruz preferiram não comentar. No entanto, os depoimentos de ambos, realizados em Brasília no mês passado, só vieram a público após o vazamento de dados na mídia.
Tentativas de montar uma estrutura paralela de inteligência sob investigação
Além dos relatos do general do Exército, os investigadores se basearam em uma fala do ex-ministro de Bolsonaro, Gustavo Bebianno. Em uma entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em março de 2020, Bebianno afirmou que Bolsonaro e Carlos discutiram a ideia de montar uma estrutura de inteligência própria, desconfiando da Abin oficial. Segundo ele, Carlos apresentou até nomes de policiais federais para integrar essa equipe paralela.
Ainda segundo Bebianno, que faleceu em 2020, a proposta de Carlos Bolsonaro não chegou a ser formalizada. Em sua entrevista, ele afirmou que Bolsonaro foi aconselhado a não levar o projeto adiante. Contudo, a “Operação Última Milha” da Polícia Federal, em janeiro deste ano, voltou a apontar Carlos Bolsonaro como integrante do núcleo político dessa rede extraoficial de inteligência.
Operação Última Milha revela ações da Abin paralela com ataques a críticos de Bolsonaro
Em julho de 2024, a quarta fase da “Operação Última Milha” expôs ainda mais detalhes sobre a Abin paralela, como o uso de publicações falsas. De acordo com as investigações, agentes da Abin paralela marcavam Carlos Bolsonaro em postagens que atacavam o senador Alessandro Vieira, crítico da gestão de Bolsonaro.
Isso ocorreu após o senador solicitar a quebra dos sigilos fiscais e bancários de Carlos Bolsonaro durante a CPI da Covid-19, o que teria motivado o ataque.
PolíciaFederal revela uso de informações sigilosas pela Abin paralela para pressionar figuras políticas
Ao longo da investigação, a Polícia Federal aponta que o núcleo político da Abin paralela, com apoio de Carlos Bolsonaro, utilizava informações sigilosas para pressionar e intimidar figuras políticas. Essas informações colocam em evidência uma complexa rede de espionagem e monitoramento, envolvendo figuras de destaque no governo Bolsonaro, reforçando o poder que a Abin paralela possuía sobre o cenário político.