O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União pediu a suspensão dos pagamentos dos militares indiciados por suspeita de tramar o golpe de estado. Com a finalização do inquérito da tentativa de golpe de estado, o comandante do Exército, general Tomás Miné, avalia essa suspensão salarial como uma chance de encerrar as discussões sobre a participação de militares nesses episódios. O indiciamento de militares e o possível confisco salarial despertaram a indignação de um grupo de militares. O coronel da Força Aérea, que é o líder desse grupo, acusou o general Tomás, e fez um apelo dramático a seus seguidores, presentes em duas mil cidades brasileiras.
O inquérito sobre a suposta trama golpista foi concluído pela Polícia Federal na última quinta-feira. Nele foram indiciados 24 militares, sendo que do total 22 são do Exército Brasileiro e 12 estavam em serviço ativo.
Diante desses fatos, o subprocurador geral Lucas Furtado, que representa o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União, pediu a suspensão dos salários recebidos pelos militares indiciados.
A representação inclui o ex-presidente Jair Bolsonaro, que é capitão reformado do Exército, e também foi indiciado, além do ex-comandante da Marinha do Brasil, o almirante Almir Garnier, e dos ex-ministros general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional do governo Bolsonaro, e Walter Braga Netto, que ocupou a Casa Civil em 2021.
Indiciamento de militares pode render milhões ao Governo
Segundo o subprocurador geral, os militares, que tinham o dever funcional de defender a pátria formaram uma organização criminosa para aplicar um golpe de estado com abolição violenta do Estado democrático de Direito. Segundo ele, “a continuidade dos pagamentos seria um desperdício do dinheiro público com a remuneração de agentes que tramaram a destruição desse próprio estado para instaurar uma ditadura.”
Conforme apuração do Globo, as salários dos militares implicados na investigação vão de R$ 10.027 a R$ 37.988,22, segundo os dados registrados no Portal da Transparência, do Governo Federal. Ao todo, o Governo Federal gasta ao menos R$ 8,8 milhões por ano com o grupo.
Ele também pede o bloqueio de bens dos envolvidos para arcar com os prejuízos causados pela invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, estimados em R$ 56 milhões pela Advocacia-Geral da União (AGU).
Grupo B-38 “Deus, Família e Pátria”
Em outra ponta de toda essa malha político-militar que tomou as redes sociais brasileiras de assalto desde 2019, está o “Grupo Brasil Conservador B-38“. Em seu canal no Youtube, o grupo é descrito como tendo sido “criado por oficiais das Forças Armadas da reserva, oficiais das Forças Auxiliares e segmentos da sociedade civil organizada.”
O B-38 tem “como líder o coronel de infantaria MK. Os pilares de sustentação do Grupo B-38 são Deus, Família e Pátria e sua finalidade principal é apoiar o processo eleitoral transparente, com contagem pública total dos votos, em apoio ao ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro.”
Segundo a descrição, o Grupo B-38 “está organizado em mais de duas mil cidades, dentro e fora do país. No Brasil, estão programadas manifestações públicas e pacíficas (carreatas, passeatas, caminhadas, marchas etc.).”
O canal do Grupo B-38 foi criado em 29 de jul. de 2021, tem 268 mil inscritos, 535 vídeos e 15.969.605 visualizações desses vídeos.
Comandante do Exército Brasileiro está autorizando tudo
A partir da publicidade da notícia do indiciamento de militares e da possível suspensão dos salários dos militares envolvidos na investigação da Polícia Federal, um vídeo mais recente do B-38 tornou-se viral nas redes sociais de grupos de militares.
Nesse vídeo, intitulado “Heleno, Braga Netto e os outros poderão perder os salários! Estamos chegando ao socialismo declarado”, o coronel MK diz “eu quero deixar bem claro para o Brasil inteiro me ouvir. Se Braga Netto for preso agora [se o general] Heleno [for preso], Almirante Garnier e General Paulo Sérgio [forem presos], eu quero que todos vocês saibam que o general Tomás, comandante do Exército Brasileiro está autorizando por trás dos bastidores.”
“Por que eu digo isso? Porque [em] uma atitude como essa eles jamais deixariam de pedir a bênção do comandante maior do Exército Brasileiro. Então, se Braga Netto” e os outros já citados “forem presos, significa que o general Tomás está concordando com tudo o que está acontecendo por trás, nos Bastidores. Está na hora, população brasileira, olho no olho, de voltarmos às ruas. Começa a espalhar isso antes que seja tarde!”