A inflação na Argentina registrou um aumento de 2,7% em outubro, marcando o menor crescimento mensal em 2024 e a menor alta desde novembro de 2021. Essa desaceleração no aumento dos preços ocorre em um cenário de crescimento da pobreza e estagnação da atividade econômica.
Assim, o acumulado dos últimos 12 meses revela uma inflação de impressionantes 193%, conforme divulgado pelo Instituto Nacional de Estatística e Censos (Indec).
Estratégias de controle da inflação na Argentina: Apreciação do peso e previsões de melhora nas taxas de pobreza
Luis Secco, economista e diretor da consultoria Perspectiv@s, explica que “boa parte do sucesso na redução da inflação se deve, em grande medida, à estratégia de um crawling peg [regime de desvalorização controlada] de apenas 2% ao mês desde dezembro, bem abaixo das taxas de inflação”.
Apesar da apreciação real do peso, que ajudou a moderar a inflação, Secco alerta que isso pode estar criando as bases para uma futura instabilidade econômica. O Banco Central da Argentina (BCRA) havia previsto uma alta de 3% para outubro, e a queda observada está alinhada com essas expectativas.
No acumulado de janeiro a outubro, a inflação já alcançou 107%. Andrés Borenstein, economista do BTG Pactual, destaca que, mesmo com os desafios, os últimos resultados da atividade econômica e da inflação sugerem que as taxas de pobreza podem melhorar no segundo semestre deste ano.
Ele observa que “os preços dos produtos da cesta básica subiram menos (1,2%, na comparação com outubro de 2023) do que em setembro (2,3%)”. A situação econômica, embora lenta, apresenta sinais de progresso.
Borenstein enfatiza que “se levarmos em conta que o que mais aumenta a pobreza é inflação e recessão, eu diria que o caminho, por enquanto, é bom”. Em junho, a pobreza alcançou 55,5% da população argentina, segundo a Universidade Católica Argentina.
Javier Milei celebra redução da inflação, mas aumentos de tarifas e impactos externos ameaçam a estabilidade econômica da Argentina
O presidente Javier Milei utilizou as redes sociais para celebrar a redução da inflação, afirmando que o país está a caminho de uma inflação mensal abaixo de 1%.
Contudo, Eric Paniagua, economista da consultoria EPyCA, aponta que o índice de inflação poderia ser ainda menor se não fosse o aumento das tarifas promovido pela Casa Rosada, como forma de corrigir a defasagem de preços.
Os custos de aluguel, água e luz subiram 5,4% em outubro, sendo esse o item que mais impactou a inflação no mês.
Os economistas ainda tentam avaliar o impacto da eleição de Donald Trump nos preços do dólar. José Lezama, economista chefe da Fundação Geo acredita que o alinhamento ideológico entre Trump e Javier Milei pode trazer benefícios, especialmente em relação ao FMI. Ele afirma que “a Argentina está trilhando um caminho de maior previsibilidade”, o que pode favorecer a atração de investimentos.
Entretanto, a alta do dólar provocada pela eleição nos EUA gera riscos, pois a Argentina possui pouca margem para resistir a choques externos.
Desafios econômicos na Argentina: Desaceleração da inflação enfrenta aumentos de tarifas e riscos externos
Nicolás Alonzo, analista da consultoria Orlando J. Ferrerés y Associados, alerta que “se as moedas dos sócios comerciais se desvalorizarem, vamos seguir perdendo competitividade”. Além disso, a alta global do dólar aumenta a dívida e dificulta a recomposição das reservas internacionais.
O índice de inflação de 2,7% em outubro representa uma desaceleração em relação ao mês anterior, quando a alta foi de 3,5%.
O resultado está em linha com as previsões do BCRA e poderia ter sido ainda melhor se não fossem os aumentos de tarifas. Eric Paniagua destaca que “os aumentos começaram nos últimos meses, mas vão se intensificar em novembro”.
De janeiro a outubro, a inflação acumulada foi de 107%, enquanto o núcleo da inflação, que exclui preços voláteis, ficou em 2,9%. Os setores mais afetados em outubro foram habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis, com um aumento significativo de 5,4%.