O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou sua postura de não intervenção nos problemas internos da Venezuela durante entrevista recente à RedeTV. A declaração ocorre em meio a um período de crescente tensão diplomática entre os dois países, marcado por acusações mútuas e uma série de provocações. Lula destacou que Nicolás Maduro, presidente venezuelano, é “um problema da Venezuela, não do Brasil”, reforçando seu foco nos desafios internos brasileiros.
A relação entre Brasil e Venezuela, que parecia fortalecida em 2023, começou a se desgastar no início de 2024. Um dos primeiros atritos foi a decisão do Itamaraty de criticar a exclusão de uma candidata da oposição nas eleições venezuelanas. A postura do Brasil foi recebida com descontentamento por Maduro, que acusou o governo brasileiro de interferir nos assuntos internos de seu país.
Outro episódio que acirrou as tensões foi uma declaração de Maduro em julho de 2024, na qual ele questionou a transparência do sistema eleitoral brasileiro, alegando que não era auditável. A afirmação, feita sem provas, foi prontamente rebatida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que classificou o sistema como seguro e transparente. O incidente aumentou o clima de desconfiança entre os governos.
Em outubro de 2024, o Brasil vetou a inclusão da Venezuela no BRICS, bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. O governo brasileiro também teria pressionado para excluir a Nicarágua da lista de países convidados ao grupo. Maduro respondeu acusando Lula de agir com hostilidade e afirmou que a decisão era reflexo de uma “herança de ódio” deixada pelo governo anterior.
As acusações venezuelanas contra o Brasil aumentaram ainda mais após a publicação de uma imagem pela polícia venezuelana, em que uma bandeira brasileira aparecia com a frase: “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. A mensagem foi considerada ofensiva pelo Itamaraty, que criticou a postura provocativa de Maduro e exigiu explicações sobre o tom das declarações.
Apesar das tensões, Lula optou por uma abordagem conciliadora em sua entrevista, afirmando que o Brasil não tem interesse em alimentar conflitos com a Venezuela ou com outros países da região. Segundo ele, cabe ao povo venezuelano decidir o futuro de Maduro, e não a governos estrangeiros. O presidente também mencionou que, no passado, o Brasil participou do processo eleitoral venezuelano, mas que a falta de transparência do governo de Maduro agravou a desconfiança.
A postura de Lula também reflete as pressões internacionais que o Brasil enfrenta, especialmente dos Estados Unidos, que têm sido críticos do regime de Maduro. Mesmo sob essas pressões, Lula afirmou que prefere manter uma postura pragmática e focada nos problemas internos do Brasil, evitando confrontos diretos com países vizinhos ou grandes potências.
O assessor especial para assuntos internacionais do governo brasileiro, Celso Amorim, comentou que a política externa de Lula busca um equilíbrio entre neutralidade e soberania. Segundo Amorim, a abordagem brasileira é baseada no pragmatismo, tentando evitar conflitos desnecessários e preservar a estabilidade diplomática no continente.
A estratégia de não intervenção do Brasil tem gerado debates sobre seu impacto na liderança do país na América do Sul. Alguns especialistas apontam que essa posição pode diminuir o protagonismo do Brasil na região, enquanto outros acreditam que ela reflete um esforço para evitar escaladas de conflito e priorizar o fortalecimento interno.
Independentemente das controvérsias, Lula deixou claro em sua entrevista que sua prioridade é manter a estabilidade no Brasil e promover uma política externa pautada pela cautela. Resta saber como essa abordagem será vista a longo prazo, tanto no contexto regional quanto no cenário internacional.
Com informações de: Canal Militarizando o Mundo